Mais uma vez a indústria cinematográfica não valoriza os animais: após ser alvo de boicote do PETA, Alfa reafirma a importância da relação de amizade entre homem e animal, no entanto, quesito trama deixa a desejar
Reprodução: SuperFlix |
Há mais de 20 mil anos, durante a última Era do Gelo, o jovem Keda sai com sua tribo para a sua primeira caçada, porém ele se acidenta e é deixado para trás. Ao entrar em perigo, ele acaba ferindo um lobo, que o ajuda a cuidar. Os dois aprendem a confiar um no outro, e enfrentam inúmeros perigos enquanto Keda tenta retornar para casa.
Com direção do americano Albert Hughes, que já dirigiu longas como Do Inferno e O livro de Eli, Hughes traz sua experiência e também assume a função de roteirista e produtor em Alfa. O elenco é composto por rostos pouco conhecidos, Kodi Smit-McPhee (X-Men) interpreta Keda, o personagem principal. Keda é o personagem de destaque, porém a atuação do ator é fraca. Ele precisa mostrar seu valor ao pai, líder da tribo, e consegue até passar sua insegurança e medo, mas quando o personagem precisa do lado emocional, fica evidente sua inexperiência. Outros personagens também integram o elenco, Jóhannes Haukur Jóhannesson (Os Inocentes), como Tau, pai de Keda, faz a segunda melhor atuação do filme. Mesmo aparecendo pouco, ele passa a sensação de um líder dedicado, e a atriz Natassia Malthe, como Rho, mãe do jovem, tem pouco destaque e uma atuação contida.
Keda (Kodi Smit-McPhee), Tau (Jóhannes Haukur Jóhannesson) e Rho (Natassia Malthe)/ Reprodução: imdb.com |
No entanto, a melhor atuação é do Alfa, o lobo. Em todas as cenas que aparece, rouba o brilho de Keda. Porém, algumas vezes é deixado de lado devido ao foco principal não ser a amizade, mas sim a busca pela jornada de volta para a casa. O filme tem uma boa trilha e bela fotografia, as escolhas dos cenários favorecerem a narrativa visual, contudo a trama peca em abordar superficialmente a questão da religião, trazida pela personagem Xamã (Léonor Varela), visto que a tribo e Keda acreditam em suas crenças como forma de vida. Por acreditar no seu ponto de vista, o jovem Keda não mata animais como sua tribo faz para sobreviver. Porém essa questão permaneceu apenas no filme, pois no set de gravações aconteceu o contrário.
Alfa / Reprodução: Steemit |
O longa Alfa foi alvo de boicote do PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), organização não governamental que atua contra os maus tratos contra animais. A vice-presidente da organização, Lisa Lange disse ao TheHollywood Reporter que “Cinco bisões perderam suas vidas, tudo para que seus corpos pudessem ser usados como acessórios neste filme totalmente inútil”, e que o PETA fez um chamado ao público para mostrar a Hollywood que a crueldade contra os animais não será tolerada. Como crítica deveria estabelecer uma relação apenas com o filme, mas como humana lamento completamente o ocorrido. Fontes próximas disseram ao The Hollywood Reporter que os bisões não foram abatidos com um único propósito, o filme. Ao invés disso, uma empresa de processamento de carne foi contratada para comprar as carcaças dos animais abatidos, utilizados para uma cena de caça no filme. O Studio 8, responsável pelo longa, disse que não tinha conhecimento das diretrizes na empresa American Humane, e lamentou o ocorrido e que tudo foi por causa de um vaqueiro contratado por fora.
TRAILER DO FILME
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Dono: Ser responsável
Segundo o dicionário, dono significa ser responsável por alguém ou alguma coisa. No entanto, parece que a indústria cinematográfica está confundido com o outro significado: exercer poder e controle sobre. Há tempos no cinema a relação de amizade entre o homem e o animal é abordada em filmes, como Para sempre ao seu lado, Marley & Eu e até em animações recentes como Ilha dos Cães. Com certeza é a amizade mais sincera e verdadeira — afirmo por experiência — , às vezes por não saber amar e respeitar, esses animais terminam abandonados. O caso de Alfa fez lembrar outra questão: no filme Quatro Vidas de um Cachorro, ativistas acusaram a produção de maus tratos e também lançaram uma campanha para boicotar o filme.
Imagens do vídeo sobre maus tratos ao animal na produção do filme Quatro Vidas de um Cachorro / Reprodução: GaúchaZH |
Divulgado pelo site TMZ, na época, o vídeo que foi feito escondido por membros da equipe, em 2015, mostra um pastor-alemão chamado Hércules, assustado com a correnteza da piscina, tenta resistir, enquanto seu treinador continua forçando Hércules a entrar na água. A Universal Studios, afirmou que seguiu os protocolos de segurança rigorosamente. Entretanto, a produtora seguiu os protocolos somente para o seu próprio conveniente, de fato, a produtora tentou ainda se defender e alegou que o vídeo foi manipulado.
A questão não é deixar de fazer filmes sobre animais, mas sim o modo como é feito: é preciso tolerância e respeitar o animal assim como seres humanos. Não espere que ele entregue uma atuação digna de premiações e chuvas de críticas positivas, assim como aprender a ler, é preciso aprender suas limitações e saber lidar com isso, não existe tema mais belo e tocante que a amizade entre homem e animal, no entanto, o cinema está matando aos poucos, como Alfa fez.
Alfa / Reprodução: YouTube |