Às vezes, para conhecer o trabalho de um diretor, recomenda-se um filme específico, considerado como o ponto alto de sua carreira. Com uma filmografia irregular, com o pavoroso O dia em que a terra parou e o esquecíveis Livrai-nos do mal e Doutor Sono, passando por O exorcismo de Emily Rose – seu filme de estreia – e chegando ao satisfatório A Entidade, podemos afirmar que o Scott Derrickson alcançou o “seu filme para ser apresentado”. Aquele em que os espectadores tomam como referência e usam como régua para suas produções seguintes.
O Telefone Preto conta a história de Finney (Mason Thames), um pré-adolescente que vive em Denver, no Colorado, com sua irmã Gwen (Madalaine McGraw), e seu pai Terrence (Jeremy Davies). Finney parece passar por todo tipo de infortúnio que um garoto pode enfrentar: perdeu a mãe, vive com o pai bêbado, violento e abusivo, e, para completar, não tem refresco na escola, onde é constantemente perturbado pelos colegas. É como se ele pedisse desculpas por estar vivo e pisasse em ovos o tempo inteiro. Em contrapartida, sua irmã mais nova é o oposto, e dessa relação o filme nos dá um de seus maiores acertos.
O terror de “O Telefone Preto” começa de fato a partir do momento em que Finney é raptado pelo sequestrador, interpretado por Ethan Hawke, que vem apavorando a cidade, e já vitimou alguns garotos. Finney é levado a um porão, isolado do mundo externo, a prova de som, onde tem apenas um colchão velho e um telefone preto, com o fio cortado, preso na parede.
O ponto alto de O Telefone Preto é conseguir mesclar o terror físico, terreno, representado através do Sequestrador (Hawke), que além de toda violência em raptar crianças, ainda usa uma máscara macabra e conta com o fato de que nenhuma vítima fora encontrada, com elementos sobrenaturais, que se apresentam como um elemento de socorro ao protagonista, subvertendo a lógica da maioria dos filmes de terror. E isso se dá através das ligações que Finney recebe no telefone, onde conversa com as vítimas anteriores do criminoso, e também com o poder psíquico de Gwen.
A direção derrapa a partir do final do segundo ato, quando as ações, tanto do protagonista, como do antagonista, ficam previsíveis e um tanto quanto repetitivas, quebrando a tensão e o engajamento que conquistara do espectador. O que também pode frustrar é a pouca presença do vilão, que se resume praticamente em esperar uma ação desesperada de Finney, e não exerce o potencial apresentado.
Com pequenos deslizes, é seguro dizer que O Telefone Preto é um filme eficiente, que consegue prender a atenção e cativa com bons personagens. De longe o melhor trabalho de Derrickson.