De lá para cá, já são mais de dois milhões de infectados pela Covid-19, com mais de 143 mil mortos. No território brasileiro, são mais de 30 mil casos confirmados e cerca de 1,9 mil óbitos. Uma situação de calamidade pública, como decretou o presidente Jair Bolsonaro e o Congresso reconheceu – permitindo que o Executivo gaste mais do que o previsto no orçamento para custear ações de combate à pandemia. O Governo Federal brasileiro, ao contrário de países como China e Portugal, não decretou medidas de isolamento social e de fechamento do comércio e das indústrias. No país, as imposições vieram dos governadores e prefeitos. Eles proibiram o funcionamento de atividades não essenciais, além de impor restrições ao comércio e empresas. As decisões foram criticadas pelo presidente da República, que as considerou “medidas extremas”.
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Já na China, por exemplo, o governo decretou o isolamento imediato da cidade de Wuhan – considerada a epicentro da doença – antes que os casos confirmados de coronavírus atingissem o pico. Os moradores foram colocados em quarentena. Para o restante do país, as pessoas consideradas de risco eram monitoradas diariamente. Os casos graves, isolados em um hotel por 14 dias.
No Brasil, mesmo após a confirmação de casos da doença dentro do território – inclusive de infectados no Palácio do Planalto -, Bolsonaro interagiu com manifestantes em Brasília no dia 15 de março e voltou a repetir a atitude dias atrás em visita a um hospital de campanha em Goiás. Neste, o presidente não usou máscara e cumprimentou apoiadores, descumprindo as recomendações do seu Ministro da Saúde e especialistas da área.
Outra medida importante, segundo a Organização Mundial da Saúde, é a detecção precoce do coronavírus. Por isso, a Coreia do Sul vem testando cerca de 10 mil pessoas ao dia. No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda testagens apenas de casos graves e em profissionais da saúde e da segurança. A baixa quantidade de testes e, por consequência, o baixo número de resultados cria a falsa sensação de controle da doença. Além de que, devido à demora dos resultados, os casos confirmados do dia refletem o número de infectados de dias atrás. O objetivo das medidas de isolamento é reduzir a velocidade de disseminação do vírus entre a população, já que, em média, cada paciente internado permanece de duas a três semanas no hospital. A quantidade de leitos capacitados para atender aos casos da Covid-19 – que precisam de ventiladores mecânicos – é limitado, não só no Brasil, mas no mundo. Para combater uma pandemia não bastam medidas governamentais. É preciso uma consciência coletiva, como mostram os chineses ao adotarem rigorosamente ao uso de máscaras, por exemplo. Isto é justamente o que falta a nós brasileiros. Não podemos alegar, entretanto, desinformação sobre a gravidade da situação. Cariocas seguem frequentando as praias do Rio de Janeiro. Gaúchos aproveitam o pôr-do-sol enquanto compartilham um chimarrão em Porto Alegre. Paulistas se exercitam no Ibirapuera, em São Paulo. Amigos e familiares voltam a se reunir, respeitando a distância de dois metros, eles dizem. Aos poucos, o isolamento social vem reduzindo em todo o país – ainda que autoridades recomendem o contrário. Não sabemos seguir recomendações. Podemos olhar para os países que foram afetados antes pelo coronavírus e aprender com os erros e acertos deles. Podemos escolher sermos eficientes igual ao portugueses no controle do vírus ou irresponsáveis como os nova-iorquinos, que agora empilham corpos e se arrependem de não terem agido antes. O ápice da Covid-19 ainda não chegou no Brasil, a curva de infectados ainda não chegou ao limite. O até então Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse, em entrevista ao Fantástico no último domingo (12), que os meses de maio e junho devem ser os picos da doença. Estaremos preparados para enfrentar este momento? As autoridades políticas serão capazes de nos guiar para fora do caos? Nós seremos capazes de seguir as recomendações sejam elas quais forem? Ou vamos enterrar milhares de corpos (à distância e com caixão fechado) e lamentar por termos valorizado mais a economia do que vida, por termos dado aquele passeio num sábado de sol quando deveríamos ter ficado em casa? Nem deveria ser preciso dizer, mas insisto: fique em casa.