A minha mãe é uma guerreira e é provável que a sua também seja. No dia das Mães e no dia da Mulher (08 de março) é comum vermos as redes sociais inundadas por mensagens de filhos exaltando suas mães, dentre as qualidades destacadas quase sempre está: ‘Guerreira. Batalhadora’. Provavelmente cada uma dessas mães, assim como a minha, é uma mulher de garra e precisou enfrentar muitos obstáculos na vida.
“Mas eu sou pai e também tive que encarar muitos desafios”, algum homem irá contestar. E, provavelmente, ele estará certo na sua afirmação, contudo, este texto é sobre as mães. Queridos pais, aguardem até agosto para a vez de vocês. Embora a paternidade também demande suas adversidades, é preciso relembrar que a engenharia social foi e segue sendo estruturada para favorecer o patriarcado, criando cargas extras na maternidade. Uma das mais gritantes reside no abandono paterno: o Brasil tem mais de 11 milhões de mães solo, aponta pesquisa da Fundação Getúlio Vargas.
É difícil pensar que haja outra opção para essas mulheres que não envolva uma ‘batalha’ diária pelo sustento e pela educação dos seus filhos. Mulheres que, segundo o mesmo levantamento da FGV, são, na imensa maioria (90% nos últimos dez anos) negras. Só que como muitas mães lembram, elas não são seres dotados de poderes mágicos como super força e invencibilidade. Elas são apenas humanas; indivíduos de carne e osso, como eu e você, que cansam, sentem dor e (pasmem) têm vontade própria.
Porém, inúmeras vezes, a vida obrigou as mães a serem guerreiras. Desde o nascimento, mulheres são ensinadas a cuidar do lar e de bonecas, que mais tarde, devem dar lugar aos filhos. Tudo explicado por uma suposta lógica biológica de que mulheres são instintivamente boas cuidadoras, maternais e têm habilidades manuais para o cuidado doméstico. Assim, meninas crescem limpando e lavando. Meninos crescem brincando e sujando.
Com a adolescência, cabe às garotas o cuidado para não gerar filhos indesejados. E sobra julgamento quando acontece: “ela não sabia se cuidar?” e “na hora de fazer tava bom né?” são clássicos na responsabilização de garotas. Mas e o pai? Desse ninguém sabe tampouco faz questão de saber.
A natureza é mais injusta com as mulheres no quesito filhos, já que boa parte das funções fisiológicas envolve a figura materna – gestação, parto e amamentação. Contudo, a participação ou não dos pais pode facilitar ou dificultar esse processo biologicamente desigual. Afinal, não é porque o bebê não se desenvolve no corpo dos pais que eles não têm responsabilidades com sua prole.
Muitos pais só conseguem entender a paternidade após o nascimento dos bebês, porém, é necessário que eles compreendam seu papel de corresponsável desde o momento da descoberta. Sim, não estou falando de ajuda na criação, estou falando de divisão de responsabilidade, despesas e tudo o que envolve os filhos.
Quando os pais optam pela omissão de suas responsabilidades, adivinhem só? Sobra tudo para as mamães guerreiras. Por trás de cada supermãe, existe um pai ausente (para dizer o mínimo). Se uma mãe precisou se superar em uma tarefa que já lhe exige tanto (física e mentalmente), é porque o outro lado não fez a sua parte.
Minha mãe é uma guerreira porque ao longo de alguns anos precisou nos sustentar e me criar sozinha. Meu pai existia em um final de semana a cada 15 dias. O alimento, a casa, as roupas, a educação, os carinhos: tudo vinha dela. Para isso, ela precisava trabalhar em dois empregos, o que resultava em menos tempo comigo e muito, muito, muito mais cansaço para ela.
Embora eu saiba que ela fez com o coração cheio de amor e cuidado, eu queria que ela não tivesse precisado fazer. Queria que meu pai tivesse feito a sua parte para que minha mãe não tivesse que fazer a parte dela e a dele também. Queria que ela tivesse tido mais tempo comigo, obviamente, mas, queria que tivesse tido tempo para ela também. Queria que a vida (e os homens da vida dela) tivesse sido mais gentil, menos cansativa e um pouco mais doce.
Minha mãe é e sempre vai ser uma guerreira, mas queria que ela não tivesse precisado ser.