Reprodução: AdoroCinema |
Ter um crítico de cinema dizendo para outro, ao final do filme, “eu ouvi o seu ronco” é claramente um péssimo sinal. E, admito, Mare Nostrum também me fez batalhar contra o sono.
O longa, dirigido e escrito por Ricardo Elias, conta a história do jornalista esportivo Roberto (Silvio Guindane) que, por não conseguir emprego na Espanha, retorna ao Brasil na esperança de finalmente lançar seu livro, mas se depara com problemas financeiros. Mitsuo (Ricardo Oshiro) também acaba de voltar ao país, depois de perder tudo em um tsunami no Japão, e procura um modo de conseguir dinheiro para construir uma carreira. Os caminhos dos dois se encontram devido a um terreno negociado pelos seus pais décadas antes e que seria a solução para seus problemas, se conseguissem vendê-lo. Apesar de apresentar uma história original, o filme se torna apenas mais uma ideia boa que, infelizmente, foi mal executada, já que a poesia e a magia que poderiam marcar a narrativa acabam por se perder na monotonia do roteiro.
Quando deveria trabalhar o evidente egoísmo dos dois personagens principais, o roteirista resolve apostar no elemento fantástico atrelado ao terreno, que supostamente realizaria desejos, e perde a oportunidade de aprofundar a história. Quando deveria investir em diálogos e complexificar as relações familiares, decide acrescentar mais um aspecto — seja personagem ou conflito emocional — que não terá tempo de desenvolver.
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Em termos de atuação, o único destaque é Carlos Meceni, que interpreta Orestes, o corretor — também conhecido como o único personagem com personalidade do longa. A atriz Lívia Santos, que faz a filha de Roberto, a Beatriz, é prejudicada pela direção que não soube aproveitar o potencial da adolescente e possivelmente a deixou “para escanteio” em detrimento dos atores principais, que de nada agregam aos seus personagens.
O trabalho da direção de arte também é confuso: o azul do mar está presente quase que em todos os momentos, seja no cenário ou no figurino, sem nenhuma razão aparente. A princípio pode-se pensar que o intuito era simbolizar uma certa dualidade, ou algum contraste entre personagens — que aparentemente só possuem roupas laranjas, azuis, ou marrons — mas o uso das cores vai perdendo consistência e o possível significado se dissipa ao longo do filme.
Em resumo, quando deveria, e poderia, construir um belo filme — simplista, porém profundo — o diretor e roteirista de Mare Nostrum desenvolve um filme meia boca, que deixa o espectador a desejar em todos os aspectos que aborda e se limita a transmitir sono.