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Hoje é 31 de março.
O clima de tensão está no ar já faz um tempo: uma suposta ameaça comunista parece pairar acima de nossas cabeças, sem que ninguém traga provas concretas de sua existência, e uma economia por vezes vacilante faz a classe média tremer com a possibilidade de perder alguns privilégios. Diante disso, um governo extremista chega ao poder. Um governo que governa um povo tão desesperado por mudanças que não sabe mais onde procurá-las. Qualquer mudança é boa, aparentemente, contanto que modifique as circunstâncias atuais.
Basta um singelo conhecimento de história para se perceber as similaridades do período em que vivemos com aquele que antecedeu a ditadura militar brasileira, na década de 60. Não vou fazer os paralelos: não acho que faça diferença agora. Agora já chegamos aqui e não se pode voltar atrás e refazer passos tortos e impensados. Agora o que nos resta fazer é bater de frente com esse cenário caótico que nós mesmos criamos.
Precisamos falar de resistência.
É quase triste falar dela quando nos sentimos tão impotentes, eu sei. Há momentos em que eu também me sinto exausta e desacreditada. Momentos em que me pergunto se realmente vale a pena. E vale. No fundo, eu sei que vale. Sei disso porque vejo ao longo da história respostas desesperadas de governos que temem, mais do que tudo, a resistência.
Em novembro de 1964, logo após o golpe, a força do movimento estudantil levou o governo de Castelo Branco a criar a Lei Suplicy, em uma tentativa de controlar as entidades estudantis. De acordo com ela, eram proibidas aos diretórios acadêmicos “qualquer ação, manifestação ou propaganda de caráter político-partidário”. Devido a insubordinação de grande parcela dos estudantes, em 1967, foi imposto o Decreto Aragão em mais uma tentativa de barrar os protestos contra o regime.
O esforço do governo, no entanto, provou-se ineficaz e as manifestações estudantis seguiram fazendo sua oposição. Um ano depois, a cólera da ditadura contestada se fez sentir na pele de Edson Luís de Lima Souto, secundarista morto pela polícia militar durante um protesto no Rio de Janeiro. O corpo do estudante de 18 anos foi carregado em passeata até a Assembleia Legislativa, onde foi velado.
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A memória de Edson Luís permanece viva entre os estudantes brasileiros. Em 2017, estudantes da Escola Estadual Costa e Silva se mobilizaram para contestar o nome do colégio, que fazia homenagem ao ditador que governava quando o jovem foi assassinado. Os alunos reivindicavam também a volta do professor José Luís Morais, conhecido como Zé, afastado por defender o movimento. Ele foi um dos responsáveis por dar início ao projeto pedagógico De Costa Para a Ditadura, através do qual se trabalhava o tema de modo crítico.
Os estudantes resistem ainda hoje. As ocupações de escolas estaduais em 2016, que ficaram conhecidas como Primavera Secundarista, são exemplo disso. O movimento foi resistência a diversos projetos em trâmite no governo de Michel Temer, entre eles a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 55, antiga PEC 241, também conhecida como PEC do Teto dos Gastos, e a reforma do Ensino Médio.
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