Se alguém dissesse, há uns cinco anos, que veríamos um filme de terror produzido pela Marvel Studios, eu ficaria cético. No entanto, em 2022, aqui estamos. O Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, de Sam Raimi, não é o melhor filme do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), mas é um dos mais ousados e inventivos até agora. O conceito de multiverso no MCU foi sendo introduzido e explicado em suas últimas produções até chegarmos neste ponto, onde personagens como o de America Chavez (Xochitl Gomez) podem abrir portais para outras dimensões em que existem versões diferentes de cada herói ou vilão.
A jornada do longa começa, justamente, porque criaturas demoníacas estão perseguindo a jovem, e ela recorre ao Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) para ajudá-la. Não há rodeios para que a narrativa fique emaranhada em um mundo completamente novo, onde nada é o que parece e com surpresas a cada esquina. É um deleite quando uma obra consegue imprimir a personalidade de seu criador e, aqui, podemos ver as marcas do diretor Sam Raimi em cada cena. Catapultado à fama com a aclamada franquia de filmes de terror Evil Dead, ele consegue criar uma estética absurdamente sombria, utilizando de elementos como jumpscares, que literalmente fazem o espectador pular na cadeira, personagens ensanguentados e, acreditem se quiser, o gore, representações gráficas e fortes de violência.
A presença da Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) dá o tom do filme. Nunca antes a personagem foi tão abordada como agora. Existem livros mágicos, feitiços e conjurações em um mundo que costumava ser dominado por armaduras tecnológicas e soros que criavam humanos super habilidosos. Elisabeth, que dá vida à Wanda Maximoff, está mais confiante do que nunca e entrega sua melhor atuação desde que estreou no MCU em 2015. Sua trajetória toma rumos inesperados e dignos de uma grande história em quadrinhos. É apoteótico vê-la utilizar seus poderes em uma larga escala.
Sem medo de se jogar no lúdico, a história de Stephen Strange não se prende ao convencional. Nesse processo, algumas coisas deixam a desejar. Alguns elementos poderiam ser melhor explorados e outros ficam um tanto jogados ao ar. Não chega a atrapalhar muito a experiência, mas alguns fãs podem sentir que suas altas expectativas não foram atingidas. Teria sido melhor conhecer um pouco mais de America Chavez para criar uma maior conexão com a personagem de tamanha importância.
Tecnicamente, o ponto alto são as escolhas estéticas, como mencionei anteriormente. As transições entre cenas são fantásticas e o uso de sobreposição agrega ao conceito de que tudo está acontecendo ao mesmo tempo, no mesmo lugar. A trilha sonora, de Danny Elfman, é um tanto desconexa. Em momentos, acerta em cheio e, em outros, acaba sendo uma distração do que mais importa em cena. Uma adição importante para a enorme coletânea de filmes da Casa das Ideias, Doutor Estranho 2 abre oportunidades únicas para um universo que se expande a cada momento.