Melhor longa estrangeiro no Festival de Gramado, As Herdeiras foge de todos os clichês e emociona quem assiste.
Reprodução: ParsaGeeks |
Vencedor do prêmio de melhor longa estrangeiro do Festival de Gramado, As Herdeiras agrada quem sabe apreciar uma proposta que não seja as narrativas apressadas e mal construídas que, por motivos que fogem do meu conhecimento, fazem tanto sucesso no cinema contemporâneo.
Com um elenco inteiramente feminino, o drama paraguaio acompanha a trajetória de Chela (Ana Brun) em meio a uma crise financeira pela qual passa com sua companheira, Chiquita (Margarita Irún), que é presa por fraude fiscal. A direção de Marcelo Martinessi retrata as personagens com a devida sensibilidade, dando enfoque à atuação minimalista de Brun (que lhe rendeu o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Berlim) ao transformar-se, por inteiro, na mulher reclusa e hesitante que floresce diante do espectador. Não só Chela é impecavelmente construída, como as coadjuvantes também brilham em cena e agregam valor ao filme: Pituca, mesmo correndo risco de ser limitada à qualidade de “vovó vaidosa”, é singularizada pela atuação espirituosa de María Martins; e Angy (Ana Ivanova) deixa de ser apenas peça essencial na transformação pessoal de Chela para manifestar uma personalidade forte e única.
Reprodução: ParsaGeeks |
O roteiro, também por Martinessi, foge de todos os clichês e prova que não são necessários personagens masculinos para se criar uma boa narrativa. Desde a proposta de contar uma história sobre uma mulher que, para conseguir dinheiro, passa a fazer bico de taxista particular de suas amigas até o fato de explorar os desejos silenciosos (e renegados pela sociedade, que preza pela juventude eterna) de uma mulher da terceira idade, o longa entretém ao apostar na simplicidade do novo. Os diálogos, que podem parecer até triviais para quem não acompanha o filme com atenção é, na verdade, recheado com significados escondidos nas entrelinhas, refletindo a complexidade humana inserida mesmo nos momentos mais corriqueiros.
O longa emociona e surpreende por retratar a inter-relação entre as mulheres de maneira tão sutil e, ao mesmo tempo, tão intensa. Tratando de temas delicados e relevantes, como a homossexualidade na terceira idade e do empoderamento feminino, As Herdeiras comove e inspira quem assiste com um desfecho inteligente e impactante.