Nas quadras, a tenista Serena Williams confronta o arcaico tutu de balé


Reprodução: Tarobá News
Após dar à luz a sua primeira filha, a jogadora de tênis Serena Williams revelou, no documentário “Being Serena”, da HBO, a luta pela vida, depois de sofrer uma embolia pulmonar pós-parto, condição em que as artérias ou veias do pulmão ficam obstruídas por coágulos. A ex- número 1 do mundo decidiu usar, no Grand Slam de tênis, no torneio Roland Garros, na França, um macacão preto feito pela marca Nike intitulado “A roupa de Wakanda”.
Segundo ela, a intenção era ser uma fonte de inspiração para as mães que não tiveram um pós-parto tranquilo. Porém, a roupa utilizada causou polêmica. Já é consenso que o filme Pantera Negra, da Marvel Studios, virou referência por valorizar trajes da cultura africana e trazê-los para as telas do cinema, fortalecendo a marca da representatividade negra feminina. O longa aborda a história de T’challa, membro da família real de Wakanda, a nação mais forte do continente africano, no qual se encontra o metal mais poderoso do mundo, capaz de proporcionar avançadas tecnologias.
A trama é uma utopia, oposta à história da tenista. Nascida numa pequena cidade nos Estados Unidos, começou jogar tênis em Compton, na Califórnia e levou uma vida simples. Filantrópica e humanitária, Serena é uma das grandes atletas do esporte, fazendo das quadras de tênis a sua Wakanda, onde está seu metal mais poderoso: a paixão. Hoje, detém o título de “Rainha das Quadras”, soberania atribuída justamente pelo uso do traje.

Guarda Real de Wakanda, as Dora Milaje utilizam roupas e adereços do povo Maasai da África Oriental. O povo vive no sul do Quênia e norte da Tanzânia. / Reprodução: usatoday.com
Assim como ela, a tenista Billie Jean King, nos anos 70, também manifestou suas crenças nas quadras e lutou de forma direta contra o sexismo. Considerada uma agressiva oponente, durante toda a sua carreira era sempre posta a prova pelo fato de ser mulher, o que acabou ocasionando na disputa que ficou conhecida como a Batalha dos Sexos, na qual ela concordou jogar contra um homem e ganhou. A partida foi contra Bobby Riggs, considerado um dos melhores tenistas nas décadas de 1930 e 1940.
Com certeza, hoje, Billie Jean King não precisa mais provar seu talento, mas a luta por igualdade ainda persiste. Apenas depois de 62 anos, Althea Gibson, a primeira tenista negra a ganhar o Grand Slam, receberá um singelo reconhecimento: ganhará uma estátua no US Open (torneio aberto dos Estados Unidos). Influente na participação de atletas negros no tênis, Althea Gibson treinou nomes como a própria Serena Williams. Depois de servir de inspiração para muitos, não apenas por romper as barreiras da cor de pele mas pelo fato de ser uma mulher nas quadras predominantemente masculinas na época, finalmente teremos o prazer de conhecê-la.

A imagem a cima mostra Billie Jean King e Bobby Riggs no ano de 1973, no encontro que ocorreu antes da famosa partida de tênis “A Batalha do Sexos”, e na imagem a baixo mostra a atriz Emma Stone e o ator Steve Carell interpretando ambos tenistas no filme intitulado A Batalha dos Sexos (2017). A jogadora Billie Jean King, ganhou a partida. / Reprodução: efemérides do éfemello e Correio Braziliense
Mas a rainha das quadras, Serena Williams, deixou sua marca antes mesmo de Althea Gibson ganhar uma homenagem. Os tempos mudaram, mas não tanto. O fato de ser a atleta que mais tem títulos no Grand Slam foi desconsiderado e, por ironia ou não, ao olhar para o traje de Wakanda, a sociedade nota somente suas curvas, agora maternais. Visto como falta de respeito perante os dirigentes do torneio, a comissão organizadora não revelou a homenagem de Serena feita às mães — que na verdade nada mais era uma roupa de compressão do corpo, feito para ajudar Serena Williams com os coágulos de sangue — e simplesmente a proibiram de utilizá-la novamente.
A jogadora, questionada pela mídia e até por colegas, afirmou que a roupa de Wakanda era para mães: “Se eu consigo, vocês também conseguem”. Entretanto, a tenista agiu contra as regras do torneio, ao usar o traje colado ao corpo.
No entanto, voltamos para década onde reinava Bobby Riggs, ou talvez em 1985, quando também a ex-tenista Anne White, ao vestir um macacão de lycra branco, atraiu atenção do público durante uma partida, sendo igualmente questionada pelo traje e quando ainda os responsáveis pelos torneios tinham total controle sobre os esportistas. De fato, regressamos para essa época. Serena Williams, ao usar também um macacão semelhante ao tom de sua pele, agora voltará a utilizar o arcaico tutu de balé.

Serena Williams usando a intitulada “ A roupa de Wakanda”, na partida que ocorreu dia 27/08/2018, no Grad Slam, em Roland Garros e a ex-tenista Anne White em 1985, também usou um macacão em uma partida. Sua atitude também foi questionada, a jogadora teve que mudar o uniforme durante a partida. / Reprodução: Fashion Bomb Daily





Escrito por

Andressa Mendes

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