Se o desfile das escolas de samba tivesse uma categoria chamada ‘Voltar atrás’, não há dúvidas que a Unidos do Governo Bolsonaro tiraria dez. Começando seu terceiro mês de mandato, o governo já mandou ministro pra rua e voltou atrás de inúmeras decisões.

Nessa escola de samba, a abre-alas seria Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Figura coringa para criar polêmicas nas horas oportunas, é difícil ver Damares passar uma semana sem falar algo que repercuta nas redes sociais. Logo, na primeira semana de governo, um vídeo em que ela anunciava uma nova era no Brasil viralizou nas redes sociais. Nesse vídeo, Damares dizia que, a partir daquele momento, menino vestiria azul e menina vestiria rosa.

Reprodução.

Obviamente, o vídeo foi rechaçado de críticas e Damares teve que voltar atrás. “Meninos e meninas podem vestir azul, rosa, colorido, enfim, da forma que se sentirem melhores”, afirmou, depois.

Outra polêmica, esta mais recente, foi com o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, que pediu para que as crianças fossem filmadas cantando o hino nacional após a leitura de uma carta que terminava com o slogan da campanha de Bolsonaro, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.

Sem nenhum amparo legal – aliás, a Folha de S.Paulo divulgou que advogados do Ministério da Educação nem foram consultados sobre a carta -, a proposta de Rodríguez foi refutada. Primeiro, porque é proibido por lei filmar crianças sem a autorização legal dos pais ou responsáveis. Depois, porque entoar o slogan de campanha de um político dentro de uma instituição pública, usando sua influência é, além de ilegal, algo tão ditatorial quanto ações tomadas por governos como da Venezuela e Coreia do Norte, mas vamos falar disso mais para frente.

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Não contente, Rodríguez resolveu mandar uma nova carta, apagando o slogan do presidente e indicando que as gravações deveriam ser voluntárias e que, caso acontecessem, deveriam ser encaminhadas juntas a uma lista com autorizações de uso de imagem. Tão inviável que, obviamente, voltaram atrás. Não é tão fácil assim fazer com que um país inteiro cante apenas um samba-enredo, ministro.

Vamos voltar agora a falar da alegoria “Relações Internacionais”. Em entrevista à GloboNews, o chanceler brasileiro Ernesto Araújo se enrolou ao falar sobre a Venezuela e a Coreia do Norte. Para ele, é difícil comparar os dois países. “Enfim, mas não sei se necessariamente é com esse grau de brutalidade que se viu neste final de semana [na Venezuela]. São situações que não necessariamente se podem comparar”, afirmou.  À esta categoria, fica a dica: sim, ministro, é tão brutal e perigosa quanto.

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Agora, nada justifica tão bem a nota dez na categoria ‘voltar atrás’ quanto a atitude do ministro da Segurança Pública, Sérgio Moro, que recuou e revogou nomeação de Ilona Szabó de Carvalho como suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, por pressão do presidente Jair Bolsonaro. Szabó é especialista em segurança pública, tem mestrado pela Universidade de Uppsala, na Suécia, além de ser cofundadora e diretora-executiva do Instituto Igarapé, que produz pesquisas sobre segurança, justiça e desenvolvimento. Um bom nome para o cargo, mas de desagrado do presidente. Não deu outra, foi desconvidada antes mesmo de assumir a posição.

Para terminar este grande desfile, nada melhor do que o carnavalesco por trás da Unidos do Governo Bolsonaro. O presidente, quando candidato, falou por diversas vezes que não iria manter a velha política do ‘toma lá, dá cá’. Pois bem, o cenário começa a mudar. O governo precisa aprovar a reforma da previdência, mas grande base de políticos não está satisfeita com o projeto e não parece desenhar um voto positivo para a mesma. Para piorar a situação, Bolsonaro demitiu Bebianno, um dos principais articuladores do governo no Congresso. Resultado: já começam a aparecer os primeiros sinais de cargos destinados à deputados, para que os mesmos possam aprovar o projeto tão precioso no governo.

Enfim, o Carnaval em Brasília está só começando e parece não acabar tão cedo. Na verdade, diferente do carnaval que a gente conhece, este parece só parar agora, em fevereiro. A Folha de S.Paulo apurou que deputados registraram presença nesta quinta-feira e, em seguida, saíram do congresso rumo ao aeroporto. A presença garante que deputados não tenham desconto no salário.

Na escola Unidos do Governo Bolsonaro, pelo menos uma nota dez: a do recuo. Mesmo assim, parece que ela vai ter que trabalhar muito para tirar nota semelhante em outras categorias.

Escrito por

Daniel Giussani

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