A arte também é uma forma de resistência. Durante a Ditadura Militar, época em que o país viveu diversas formas de repressão por parte do governo, a música se destacou como um meio de oposição e protesto. Muitas vezes com mensagens subentendidas, para driblar a fiscalização, algumas canções marcaram esse período. Hoje, 55 anos depois do fatídico 31 de março de 1964, reunimos oito dessas canções.
1) Como os nossos pais
Eternizada pela voz de Elis Regina, a canção de Antônio Carlos Belchior virou um hino sobre a revolta da juventude com a conformidade da população frente a um governo autoritário – conformidade essa que atravessa gerações.
“Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina. Eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens”
2) O bêbado e a equilibrista Foi composta em 1979 por Aldir Blanc e João Bosco e gravada por Elis Regina. É uma das canções mais pesadas dessa lista. Cita indiretamente o DOI-CODI, com o apelido “mata-borrão”, cita parentes de pessoas mortas pelos militares (como Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho) e cita pessoas que foram exiladas (os irmãos Henrique de Souza Filho e Herbert de Souza).
“Meu Brasil, que sonha com a volta do irmão do Henfil, com tanta gente que partiu num rabo de foguete. Chora a nossa pátria mãe gentil, choram Marias e Clarisses no solo do Brasil…”
3) Apesar de você
Música de Chico Buarque, tem ritmo animado e fala diretamente com o regime militar (ou com o presidente Médici). Há um sentimento de esperança, em que se prevê um amanhã sem censura.
“Apesar de você, amanhã há de ser outro dia. Você vai ter que ver a manhã renascer e esbanjar poesia. Como vai se explicar vendo o céu clarear, de repente, impunemente? Como vai abafar nosso coro a cantar na sua frente?”
4) Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Música de Roberto Carlos e Erasmo Carlos feita em homenagem a Caetano Veloso, que encontrava-se no exílio, em Londres, durante o regime militar. A letra sonha com uma volta do amigo.
“As luzes e o colorido que você vê agora nas ruas por onde anda, na casa onde mora, você olha tudo e nada lhe faz ficar contente. Você só deseja agora voltar pra sua gente.”
5) Cálice
Música escrita por Chico Buarque e Gilberto Gil em 1973, é um dos mais famosos hinos de resistência à ditadura militar. Cheia de metáforas e duplos sentidos, foi censurada e só foi liberada cinco anos depois, em 1978.
“Como é difícil acordar calado, se na calada da noite eu me dano. Quero lançar um grito desumano, que é uma maneira de ser escutado. Esse silêncio todo me atordoa, atordoado eu permaneço atento na arquibancada, pra a qualquer momento ver emergir o monstro da lagoa”.
6) Aquele Abraço
Música composta por Gilberto Gil e anos depois regravada por Tim Maia, a música é uma despedida de Gilberto ao Brasil quando foi concebido o seu exílio. Menciona pessoas, bairros, clubes, escolas de samba e figuras cotidianas do Rio de Janeiro, além de uma referência velada ao lugar onde ficou preso na frase “alô, alô, Realengo”.
“Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço, que a Bahia já me deu régua e compasso. Quem sabe de mim sou eu. Aquele abraço! Pra você que me esqueceu, aquele abraço! Alô Rio de Janeiro, aquele abraço! Todo o povo brasileiro, aquele abraço!”
7 7) Pra não dizer que não falei das flores
Canção escrita e interpretada por Geraldo Vandré. A composição foi censurada pelo regime e Vandré foi perseguido pela polícia militar, tendo que fugir do país e optar pelo exílio para evitar represálias. A letra da música indica um convite ao povo, um apelo à ação e à união. Chama para a luta: “vem!”.
“Há soldados armados, amados ou não, quase todos perdidos de armas na mão. Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição, de morrer pela pátria e viver sem razão. Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”
8)Acorda, amor!
Outra música de Chico Buarque, faz alusão à agonia e ao temor que a população da época sentia quando a polícia se fazia valer do discurso da legalidade de ações – esta mesma legalidade que fazia com que as autoridades perseguissem e matassem a quem desse vontade.
“Se eu demorar uns meses, convém, às vezes, você sofrer. Mas depois de um ano eu não vindo, ponha a roupa de domingo e pode me esquecer.”