Em um Brasil distópico, o governo assina uma medida provisória para uma suposta reparação histórica do passado escravocrata do país. O decreto prevê que todos os cidadãos negros, ou “de melanina acentuada”, como são tratados na narrativa, migrem para a África, a fim de “retornar à suas origens”. Nesse contexto, acompanhamos a médica Capitu (Taís Araújo), seu marido, o advogado Antônio (Alfred Enoch), e o primo dele, o jornalista André (Seu Jorge), todos negros.
Estreante na direção, Lázaro Ramos também é responsável pelo roteiro de “Medida Provisória”. A obra é uma adaptação da peça “Namíbia, Não!”, de Aldri Anunciação, que no teatro também foi dirigida por Lázaro. O filme marca ainda a estreia do anglo-brasileiro Alfred Enoch, já conhecido pelos seus papéis em Harry Potter e How to Get Away With Murder, atuando em português. Além disso, fazem parte do elenco Adriana Esteves, Renata Sorrah e Emicida.
Apesar de representar uma distopia, o longa é uma hipérbole da sociedade atual. É uma transposição exagerada, mas realista, do racismo e de um discurso constante nos grupos conservadores brasileiros, o de branqueamento racial, segregação e recusa de direitos fundamentais. A violência policial, o colorismo e o armamento também perpassam a narrativa e são objetos de crítica do filme.
Um dos pontos fortes e fonte de diversos arrepios é a trilha sonora, composta de grandes nomes da música brasileira, como Elza Soares, Baco Exu do Blues e Liniker, além de composições originais de Rincon Sapiência. Como diretor, Lázaro Ramos abraçou seus ideais e construiu um thriller cômico e um dramático, que denuncia um futuro doloroso, mas plausível, caso o autoritarismo siga nos rumos brasileiros.
Gravada em 2019, a produção foi impactada pela pandemia e o lançamento oficial acontece no dia 14 de abril. É importante reforçar que o filme entra nos cinemas junto com blockbusters internacionais, mas não perde em força de narrativa, em impacto e em qualidade cinematográfica.