Crítica: Atravessa a Vida

“O passado é memória, o futuro é esperança” diz um professor para seus alunos. Em seguida, ele completa, “sem esperança, o que acontece?”. Com essa indagação, fazendo menção ao filósofo Santo Agostinho, que o novo trabalho de João Jardim começa, dando sinal de que “Atravessa a Vida” trataria de temas bem mais espinhosos do que a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). 

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O longa acompanha os alunos de uma escola pública do interior do Sergipe em seu último ano de escola, mesmo ano em que esses estudantes prestarão a prova do Enem. O dia-a-dia dos alunos, funcionários e professores do colégio é retratado de forma simples e direta, por vez com cenas das aulas acontecendo, outras com depoimentos dos personagens diretamente para câmera. E é nessa linguagem que “Atravessa a Vida” encontra seus maiores méritos. 

O filme apresenta os problemas que uma escola pública de uma cidade interiorana enfrenta, como falta de recursos financeiros, recursos humanos – como quando a falta de professores fica evidente e a diretora relata que precisa de desdobrar em quatro ou cinco tarefas simultâneas. Também são apresentados problemas estruturais da sociedade, como o abandono paterno, descrito por mais de um personagem, no maior acerto do filme: o efeito dessas questões nos alunos. Tais efeitos não são notados somente no desempenho escolar, mas também em questões como auto imagem, não pertencimento, depressão. Temas que raramente vemos sendo tratados em contextos não elitistas. 

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Outro grande acerto da direção é não acelerar o ritmo da narrativa, deixando o espectador sentir que faz parte daquele ano letivo, embarcando nas angústias e pequenas conquistas daqueles jovens e fazendo com que a obra se transforme num retrato honesto, sincero e real de uma realidade que precisa muito ser ouvida e assistida.  

Ficha Técnica: 

Filme: Atravessa a Vida

Diretor:  João Jardim

Data de lançamento: 14/01/2021

Trailer: