Reprodução: Elle Portugal

Mais uma vez, o mesmo alvoroço. 

Em 1837, o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen escreveu uma história sobre uma jovem sereia que sonhava abandonar a vida nos mares para se tornar humana. Havia poucas características sobre as características físicas da personagem. Além da cauda típica de sereia, a única descrição revela uma jovem de pele clara e delicada. Como de costume, a Disney, em 1989, adaptou o clássico na animação Ariel, nome dado pelo estúdio. A sereia, então, ganhou personalidade, olhos claros, cabelos ruivos e uma linda cauda verde. Assim como as outras princesas do próprio estúdio, ela fez sucesso e tornou-se um fenômeno vendendo milhares de cópias e, posteriormente, brinquedos. Ela era um novo hobby, um novo mercado. É fato que Ariel é uma arte criada não pelo autor e sim, por outra pessoa. Alguém desenvolveu a personagem mediante seu repertório e referências sociais e culturais da época. Não esqueçamos que metade das princesas são brancas. 
Aparentemente ainda não caiu a ficha, mas já é 2019. Passamos por muitas coisas. Crises mundiais, tanto na saúde como financeira. Aprendemos e evoluímos. Será? Nunca se falou tanto em representatividade como hoje, mesmo o mundo lidando com extremismo de ambos os lados. A palavra “mudança” finalmente saiu do dicionário e pousou nas ações. A atriz e cantora norte-americana Halle Bailey, de 19 anos, foi anunciada como a nova protagonista do live-action do filme “A Pequena Sereia”, com previsão para 2020. Até aqui tudo bem. Recentemente estamos sendo bombardeados por remakes clássicos. A indústria cinematográfica lucra e os fãs agradecem. No entanto, a escolha gerou burburinho. Afinal, Ariel é branca.
Primeiramente, sereias não existem. São seres mitológicos. Como posso afirmar qual tom de pele a raça poderia ter. Se Halle não poder ser a princesa, você também não deveria poder opinar. Acredite, entendo que a personagem se tornou símbolo para um geração diante da caracterização do estúdio. Criou uma identidade muito além dos livros. Então, qual o propósito de mudar o clássico. Não estamos nos anos 80. O público adulto, assim como o público infantil, precisa aprender que aquilo que olhamos não é a representação de uma imagem perfeita e sim uma de tantas imagens que existem no mundo. 
Questiono o fato de a live-action do “Rei Leão” não ter sido alvo também de críticas. O elenco composto majoritariamente por negros tem nomes como Beyoncé, Donald Glover, Alfre Woodard, JD McCrary e James Earl Jones. Cantores e atores mundialmente famosos, assim como Halle. Ah, claro. Eu não vejo eles no longa, somente escuto suas vozes. Uma informação: a releitura do filme não é um live-action. Esse termo é utilizado para definir trabalhos que são realizados por atores reais. No entanto, isso não é motivo para burburinho. Não sei qual tipo de representação você pretende encontrar em histórias sobre princesas e quais valores sociais está tentando passar para seus familiares. Mas, você não vai encontrar em cada imagem que olhar uma representação sua. Por favor, deixe de ser mesquinho(a) e abra a sua mente.


A coluna é de responsabilidade da autora.


Escrito por

Andressa Mendes

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *