Estreia nesta quinta-feira (17), nos cinemas brasileiros “Em um bairro de Nova York“, adaptação do famoso musical da Broadway “In the Heights“, de 2008. O nome da obra, em português, pode fazer com que o filme se pareça com as outras dezenas de produções audiovisuais que se passam em Manhattan: trânsito caótico, vida agitada, táxis amarelos e copos de café na mão. Não é o caso de In The Heights. Aqui, a história é sobre uma comunidade latina que mora em Washington Heights, um dos bairros mais ao norte da ilha, bem distante da Times Square ou da Estátua da Liberdade. Neste bairro, cada personagem tem um sonho diferente. O filme, mais do que mostra a vida no bairro, aborda o sonho dos seus moradores.
O que a gente vê ao longo das 2h20min de duração do longa metragem é uma explosão de cor, alegria, resistência, luta, paciência e fé. Características que marcam o povo latino e sua persistência em se fazer existir no país norte-americano. Entre as histórias contadas, há casos de racismo, intolerância e medo das políticas imigratórias. Assuntos atuais e que assolam, diariamente, a comunidade latina fora dos seus países de origem.
As luzes se acendem em Washington Heights… O cheirinho de um cafecito caliente paira no ar, na saída da estação de metrô da Rua 181, onde um caleidoscópio de sonhos mobiliza essa comunidade vibrante e muito unida. No meio de tudo, temos o querido e magnético dono de uma mercearia, Usnavi (Anthony Ramos), que economiza cada centavo do seu dia de trabalho enquanto torce, imagina e canta sobre uma vida melhor.
O Acabou em Pizza já assistiu ao filme e separou cinco motivos para você assistir a “Em um bairro de Nova York”:
1) Lin-Manuel Miranda e suas músicas
Prepare-se para ficar viciado nas músicas de Em um bairro de Nova York. O repertório é escrito por Lin-Manuel Miranda, que interpretou o protagonista Usnavi na peça teatral de 2008. Aliás, foi por esse trabalho que Lin-Manuel ficou conhecido e, anos depois, integrou a produção, escrita e o elenco de Hamilton, um dos maiores fenômenos recentes da cultura pop.
Em “In the Heights”, as mesmas características presentes em Hamilton embalam as músicas. Baladas são rapidamente transformadas em raps e o coro endossa o refrão criando verdadeiros espetáculos sonoros. Aqui, há ainda um adicional importante: os ritmos salsa e merengue entram para celebrar a cultura latina.
Destaques para “In the Heights”, “96.000” e “Carnaval del Barrio”.
2) Atuações
Na produção cinematográfica, o protagonista Usnavi é interpretado por Anthony Ramos (Hamilton e Nasce uma Estrela). Com carisma e muita habilidade vocal e corporal, Ramos entrega à altura as necessidades do personagem. Já na primeira cena, numa performance musical de cerca de 8 minutos, o ator consegue demonstrar emoções como alegria, nostalgia, esperança e medo. Isso porque Usnavi tem o sonho de se mudar para República Dominicana, país em que nasceu, mas para isso, precisa trabalhar e guardar muito dinheiro.
O time de coadjuvantes também é de peso. Corey Hawkins, o Benny, tem cenas muito divertidas e dançantes. Destaques ainda para Gregory Díaz IV, que interpreta o primo adolescente de Usnavi, as jovens Melissa Barrera, atriz mexicana, e Leslie Grace, cantora que é filha de dominicanos, e para Olga Merediz, cubana que reprisa seu papel de Abuela Cláudia da Broadway.
3) Direção
Uma das coisas mais legais em musicais é que eles costumam ter direções bastante peculiares. Na maioria das vezes, isso funciona, como é o caso dos recentes La La Land e até mesmo Les Miserábles. Outras vezes, é verdade, diretores podem pesar um pouco a mão, como no fiasco Cats. No “Em um bairro de Nova York”, a direção acerta na maioria das vezes.
Quem está por trás disso é Jon M. Chu, californiano de mãe taiwanesa e pai chinês, realizador da comédia romântica sobre a comunidade estadunidense-asiática Podres de Ricos. Chu aposta em cores vibrantes, efeitos especiais coloridos e câmeras rápidas para dar o tom “quente” que a história necessita. Ganha um ponto extra a decisão de contar a história de imigrantes com um diretor que trabalha com essas pautas.
O único escorrego da direção está também na montagem do filme. Muitas vezes, o plano escolhido corta detalhes ou reações importantes que gostaríamos de ver na tela.
4) História cativante
Um dos acertos de In the Heights é conseguir contar várias pequenas histórias interessantes. Usnavi tem o sonho de se mudar para República Dominicana. Sonny, seu primo, quer poder se formar em uma universidade estadunidense. Nina, garota-prodígio do bairro, está em um dilema se cancela ou não a sua matrícula em Stanford. Vanessa quer se mudar para o centro de Manhattan e virar uma grande estilista, mas encontra dificuldades com as imobiliárias para seu aluguel ser aceito. Aqui, cito quatro exemplos, mas o filme apresenta muitas outras histórias, como a de uma senhora que vira avó do bairro inteiro e de uma dona de salão de beleza que precisa se mudar por causa da gentrificação no local. Todas essas pessoas têm o que filme chama de sueñitos, pequenos sonhos que movem a trama.
5) Cultura latina
Por fim, mas não menos importante (pelo contrário, talvez mais importante), o filme é uma verdadeira celebração à cultura latina. Li críticas que falavam que o filme pecou em não representar comunidades específicas dentro do escopo latino. Por exemplo, não há personagens brasileiros e só existem duas referências ao Brasil ao longo do filme. Considero críticas relevantes, mas é importante pensar que o filme escolheu um recorte e trabalhou em cima dele. Além disso, a comunidade brasileira em Nova York não tem como referência o bairro de Washignton Heights.
Fora isso, prepare para ver personagens com sonhos, amores e alegrias. Há também sofrimento, músicas tristes, momentos de quebrar o coração. Tudo isso faz parte de um musical. Ao assistir à adaptação cinematográfica, é entendível o sucesso do musical e a importância de Lin-Manuel Miranda no setor. Também dá para entender o quão importante é colocar nos grandes telões mundiais histórias de cubanos, paraguaios, dominicanos e mostrar para o mundo um bairro de Nova York que talvez, até então, não fosse muito conhecido.
O filme já está disponível nos cinemas e também deve estrear na HBO Max, streaming que chega ao Brasil no fim do mês.