Depois de um primeiro filme divertido e bem resolvido, e de um segundo perdido e sem propósito, chega aos cinemas Animais Fantásticos – Os segredos de Dumbledore, o terceiro da série derivada do universo de Harry Potter. Aqui, temos o bruxo do mal, Gellert Grindewald (Mads Mikkelsen, que assume o papel no lugar de Johnny Depp) tentando ocupar um cargo político internacional para, assim, por em prática seu plano de guerra contra o mundo trouxa, enquanto Alvo Dumbledore (Jude Law) junta seu time, novamente, para impedi-lo.
J.K. Rowling já provou sua capacidade escrevendo a série de livros Harry Potter, onde compôs um universo rico, utilizando do recurso literário para expandi-lo a cada livro. Quando ela migra para a escrita de roteiro, talvez tenha esbarrado nas características do formato, que é mais direta e sem espaços para tantas digressões. Um dos principais problemas do roteiros de J.K. é o excesso de explicações, diálogos expositivos que fazem com que a trama perca ritmo e subestime a capacidade do espectador. Isso já tinha ficado claro no filme anterior, Crimes de Grindewald. Relembre lendo a crítica.
O que mais me incomodou em Segredos de Dumbledore, porém, é a falta de protagonismo. Essa série não é mais sobre Newt Scamander (Eddie Redmayne), por mais que roteiro e direção tentem assim fazer. Em Crimes de Grindewald já se notava que o protagonismo de Newt estava sumindo a medida que Dumbledore crescia na história – o que é compreensível, visto que é um personagem complexo e que desde a saga HP tem o carinho do público. Neste filme fica evidente seu protagonismo, já que é ele quem escolhe o time de bruxos para combater o vilão, decide os planos e ações do grupo, e, o mais importante: tem uma relação direta e é rival declarado do vilão. Mas o filme insiste em colocar Newt no centro das ações e acaba fazendo isso de forma forçada, em ações que não tem o impacto que precisam causar.
Essa falta de protagonismo se transfere para personagens secundários, como Vicência Santos, vivida pela brasileira Maria Fernanda Cândido. Para alguém com importância para a trama como sua personagem, foi renegada a pequenos trechos em que pouco é mostrada e sem nenhuma fala, o que pra mim deixa claro como a direção do quase sempre competente David Yates não estava tão segura como outrora. Outro ponto problemático é o excesso de personagens, como a Queenie, em que sua presença não se justifica desde o filme anterior e até mesmo o Jacob, que se mantém apenas por ser um alívio cômico eficiente, mas que não tem nenhuma função narrativa e é tratado como café com leite pelo demais personagens, e claro, Creedance, o adolescente triste sem expressão que tem apenas como função ser triste e num dilema pessoal raso e mal explorado, um papel a altura para o ator medíocre que o interpreta.
Animais Fantásticos – Os Segredos de Dumbledore não é só problemas. O universo visual criado é lindo, os animais são devidamente criveis, tem textura, expressões e movimentos verossímeis e são capazes de criar empatia. O grande acerto é a interpretação de Jude Law, que caiu como uma luva no papel de Dumbledore. Aquela sabedoria que estamos acostumados se mistura a uma certa arrogância da juventude e a composição do ator para entregar um personagem complexo está na medida. Infelizmente é pouco pra transformar este num grande filme, embora seja visivelmente melhor que seu antecessor. Ficamos no aguardo e na expectativa de que a franquia acerte a mão nos dois próximos filmes.