Se você encontrasse uma pessoa do início do século 21 e contasse a ela que o maior sucesso recente da Broadway seria um musical sobre Alexander Hamilton, ela possivelmente diria que você é um mentiroso. Aliás, teria muita chance dela nem saber quem é Hamilton. Mas essa é a verdade: “Hamilton – An American Musical” é um dos maiores fenômenos pop dos últimos tempos. 


Na foto, Hamilton (Lin-Manuel Miranda) conversa com Lafayette (Daveed Diggs), Hercules Mulligan (Okieriete Onaodwan), Aaron Burr (Leslie Odom Jr) e John Laurens (Anthony Ramos)
Foto: Disney / Divulgação

A peça conta a história de Alexander Hamilton, primeiro Secretário do Tesouro dos Estados Unidos e responsável por desenvolver as bases do capitalismo no país, focado na manutenção do crédito público e na fundação de um banco nacional. Imigrante, Hamilton chegou aos EUA com 17 anos e convenceu empresários a bancarem seus estudos em Nova York. Depois, ajudou na revolução que levou à independência dos Estados Unidos. Foi ali que conheceu e ficou amigo de George Washington, primeiro presidente do país e o homem que convidaria Hamilton a assumir a pasta do tesouro.


Toda essa história, além de detalhes sobre sua vida pessoal, são contadas nas pouco mais de 2h40min da peça brilhantemente escrita, composta e estrelada por Lin-Manuel Miranda. Para dar o tom da história, Miranda abriu mão das clássicas óperas de musicais e usou de uma inovadora mistura de rap, jazz, R&B, balada e música pop para compor a trilha do espetáculo. Não bastasse a ousada decisão de contar a história de um “pai fundador” dos Estados Unidos com muito rap e hip-hop, Miranda decidiu que o elenco seria composto inteiramente por artistas de diferentes etnias. Assim, negros, latinos e descendentes de asiáticos foram escalados para representarem personalidades brancas na vida real. É uma forma de aproximar o retrato da América de ontem com a América de hoje, diz o slogan do musical. 



O resultado? Uma bilheteria de U$ 650 milhões, 11 prêmios Tony (o Oscar do teatro), o Grammy de Melhor Álbum de Teatro Musical e um prêmio Pulitzer. O sucesso foi tanto que raramente se achava ingressos disponíveis para a peça. Os melhores lugares chegaram a custar mais de mil dólares. As músicas viciantes ficaram na boca de crianças, adolescentes e adultos do país todo.


Não demorou muito para a Disney se interessar pela história. No início de 2020, foi anunciado que a empresa havia comprado uma filmagem da peça e os direitos de distribuição mundial por U$ 75 milhões. A ideia era lançar nos cinemas em 2021, mas, por conta da pandemia do novo coronavírus, o musical foi escolhido como um dos carros-chefes do Disney+, serviço de streaming da companhia, e já está disponível para ser assistido no mundo todo.

As irmãs Schulyers, brilhantemente interpretadas por Philippa Soo, Renneé Elise Goldsberry e Jasmine Cephas Jones
Foto: Disney / Divulgação


Músicas viciantes e atuações marcantes


Tirando todo fenômeno cultural que Hamilton causou nos Estados Unidos, ainda sobram qualidades a serem ditas sobre a peça. A atuação e a potência vocal dos atores são extraordinárias. Destaques para Leslie Odom Jr, intérprete de Aaron Burr, vice-presidente dos EUA que ficou conhecido na história por ser o assassino de Hamilton, Daveed Diggs, que interpreta o Marquês de La Fayette no primeiro ato e Thomas Jefferson no segundo, e Renée Elise Goldsberry, que interpreta Angelica Schuyler. 

As músicas, como já dito aqui, são viciantes. Combinadas com uma coreografia de tirar o fôlego, é normal você ficar sem ar depois de uma performance. Num dos (vários) altos momentos da peça, Renée se entrega de corpo e alma ao cantar sobre o amor que sente por seu cunhado na excelente “Satisfied”. Em outro grande ponto, entendemos as motivações e pensamentos de Burr, quando ele canta “Wait for It”. 



O único ponto negativo na versão distribuída pela Disney+ é que o musical não foi legendado. Para um projeto que tem como um dos objetivos reverenciar imigrantes e sua importância na história dos Estados Unidos, é um grande ato falho. Em um tweet, Miranda se desculpou, falou que a empresa não teve tempo hábil para traduzir a peça e que, em breve, haverá versões legendadas de Hamilton no streaming. 


Mesmo sem legenda, Hamilton é uma das melhores coisas que assisti nos últimos anos. Já vi faz mais de duas semanas, mas não consigo tirar as músicas, a história e o espetáculo da minha cabeça. Quem tiver com tempo livre, não deixe de conferir. 



Ficha Técnica: 


Filme: Hamilton
Diretor:  Thomas Kail
Compositor: Lin-Manuel Miranda
Plataforma disponível: Disney+
Elenco:  Lin-Manuel Miranda, Leslie Odom Jr, Renneé Elise Goldsberry


Escrito por

Daniel Giussani

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