“Eu não acredito na glorificação do assassinato, eu acredito no empoderamento das mulheres”, disse Lady Gaga na premiere de Casa Gucci. O filme conta a história real de quando Patrizia Reggiani (Gaga), uma estranha de origens humildes, se casa Maurizio Gucci (Adam Driver), sua ambição desenfreada começa a desvendar o legado da família Gucci e desencadeia uma espiral de traição, decadência, vingança, que acaba terminando em assassinato. É, ainda, baseado no livro “Casa Gucci: uma história de glamour, ganância, loucura e morte”.
Um ponto alto do filme é, com certeza, seu elenco: Lady Gaga, Adam Driver, Jared Leto (irreconhecível em sua caracterização como Paolo Gucci), Jeremy Irons, Salma Hayek e o veterano Al Pacino. Dirigido por Ridley Scott, o longa transita entre true-crime, drama (por vezes se aproximando de uma narrativa novelística), e a cereja do bolo é o sotaque do inglês “italianizado” (equivalente aos da novela “Passione”, por aqui) – que preciso admitir que somente Gaga (e talvez Al Pacino) o faz com sutileza suficiente, mesmo flertando com algo mais russo, ao passo que Leto abre a boca e é difícil conter os risos.
Conhecemos Patrizia no estacionamento da empresa de seu pai, com homens assobiando em sua direção. Ela conhece Maurizio em uma festa e o encanta, mesmo renegando a fortuna de sua família. Por um tempo, são um casal simples, sem maiores regalos, mas Patrizia é mais ambiciosa que isso, indo ao tio de Maurizio, Aldo (Al Pacino), para resgatar as raízes Gucci. O filho de Aldo, Paolo (Leto), tem suas excêntricas ideias de designs renegadas pelo pai, que aposta suas fichas no seu primo.
Em critérios técnicos, não há muita inovação, mas o filme traz cenas memoráveis muito bem produzidas. No geral, a estética caótica dos anos 80 poderia ter sido melhor aproveitada, mesmo com um figurino exemplar. A trilha sonora rendeu bons momentos, Blondie era evidência no trailer, mas foram os clássicos reinterpretados em italiano que deram o tom.
A produção também traz ares de “O Poderoso Chefão”, mas com uma máfia mais charmosa do que a dos Corleone. Se você aguentar às quase 3 horas de filme, é com certeza um must-watch deste ano, que pode até render à Lady Gaga mais uma indicação ao Oscar. É ela, Signora Gucci, quem brilha e prende a atenção (apesar do inegável charme de Adam Driver e da tragicômica jornada de Paolo), além de ser o ponto central, que amarra todos os núcleos secundários da novela.