Desde sua infância, o diretor de cinema David Fincher demonstrou interesse pelo audiovisual e uma de suas brincadeiras favoritas era lidar com as câmeras de seus pais. Fincher começou a carreira na publicidade e, depois disso, dirigiu alguns videoclipes para artistas como Michael Jackson e Madonna. O primeiro filme que dirigiu em sua carreira foi Alien 3 (1992); uma experiência não muito boa devido ao fracasso do filme com a crítica e na bilheteria. Somente anos mais tarde, com o lançamento de Seven (1995), que ele começou a ser aclamado.
5 — A Rede Social (2010)
O filme que acompanha a história dos criadores e da fundação do Facebook foi um tremendo sucesso e caiu nas graças da Academia, rendendo 8 indicações ao Oscar, incluindo uma para Fincher como melhor diretor. O elenco é composto por atores como Jesse Eisenberg — que interpreta o controverso Mark Zuckerbeg – Armie Hammer, Justin Timberlake e Andrew Garfield. Kevin Spacey ficou no cargo de produtor executivo.
É um filme interessante e, com tantos nomes de peso envolvidos no projeto, o resultado não poderia ser diferente. Vai muito além da premissa original de contar a história do Facebook e de como ele se tornou o que é atualmente. O longa, cujo roteiro foi adaptado do livro The Accidental Billionaires, retrata o universo dos jovens que cresceram com o desenvolvimento da internet a todo vapor e como isso tem um lado negativo. Elementos como a difamação da namorada de uma personagem e o sistema de ranking de garotas são usados para exemplificar como as vítimas podem sofrer em maior escala com o crescimento das redes sociais.
4 — Garota Exemplar (2014)
Os protagonistas de Fincher costumam ser emocionalmente instáveis. Nick (Ben Affleck) e Amy (Rosamund Pike) não são diferentes. O casal de nova-iorquinos é obrigado a se mudar para uma cidade menor devido à crise financeira que enfrentam e isso acarreta em diversos problemas no seu relacionamento. Para apresentar a dinâmica do casal e tornar clara ao espectador às intenções dos personagens, o filme contrasta cenas de como eles se conheceram com as do casamento e seu desgaste.
Repleto de reviravoltas — um recurso constantemente usado por David em seus longas — o filme é envolvente e quando acaba, a primeira coisa que você sente é a necessidade de conversar com alguém sobre o que acabou de assistir. Garota Exemplar causa desconforto, inquietação e espanto, todos sentimentos fundamentais para um bom filme de suspense.
O elenco funciona muito bem, mas o destaque do filme fica para Rosamund Pike, que consegue fazer com que até Ben Affleck pareça melhor do que de fato é. A dualidade com a qual ela tem de trabalhar e as nuances de personalidade da personagem, que em algumas cenas são expostas apenas pela expressão facial, lhe renderam uma indicação de Melhor Atriz no Oscar.
3 — Millenium: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres (2011)
Os homens que não amavam as mulheres é o primeiro remake na carreira de David Fincher. Tanto o filme original (2009), quanto esse, foram inspirados na trilogia do escritor sueco Stieg Larsson. Fincher volta a trabalhar com Rooney Mara, que havia atuado em A Rede Social. Em Millenium, ela interpreta a hacker Lisbeth Salander, uma personagem que é do jeito que o diretor gosta: marginalizada pela sociedade e com uma aversão pelos padrões impostos. Seu papel, assim como a de Rosamund, também lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz.
O filme se passa na Suécia, onde uma garota desapareceu há 40 anos e cabe ao jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig) descobrir o que aconteceu. Para isso, ele conta com a ajuda de Lisbeth. Conforme a investigação avança, mistérios familiares começam a vir à tona. Os tons sombrios e melancólicos com os quais Fincher já está habituado a trabalhar ajudam a criar a atmosfera ideal para o suspense do filme.
A misoginia, como indica o título, é bem marcante no longa. A violência contra as mulheres no filme gera cenas fortes e difíceis de serem esquecidas. Apesar de ter sido um sucesso de crítica, as mudanças na adaptação feita para o cinema deixaram alguns fãs descontentes.
2 — Clube da Luta (1999)
Para falar sobre o clube da luta, eu tive de descumprir uma regra. Quem já assistiu, sabe do que eu estou falando. O filme foi um fracasso de bilheterias que se tornou um sucesso arrasador em vendas de VHS e DVD’s até chegar ao ponto de se tornar um clássico, tópico até hoje em conversas de entusiastas do cinema. Há quem ame, há quem odeie, mas não se pode negar o impacto que esse filme teve para a cultura pop.
O narrador da história é um homem aparentemente comum, consumido pelo trabalho e que com lida com a insônia. Sua vida muda ao cruzar o caminho de Tyler Durden (Brad Pitt), um homem explosivo que sobrevive trabalhando em diversos lugares. Embora esteja narrando a história, o personagem de Norton não é onisciente; pelo contrário, devido a sua insônia, ele demonstra estar confuso e perdido em diversos momentos. Isso gera uma desconfiança do espectador com ele.
O contraste das personalidades do Narrador (cujo nome não é revelado) e de Tyler é o pano de fundo para todos os eventos que vão sendo desencadeados no decorrer do filme. Cheio de violência, não sem motivo, e críticas sociais, Clube da Luta oferece mais do que belas cenas. Ele propõe uma reflexão a quem assiste, sobre o capitalismo, consumismo e o modo como vivemos. Essa abordagem tão bem construída talvez seja o que torne o filme relevante até os dias atuais.
1 — Seven: Sete Pecados Capitais
A obra-prima de uma carreira. Seven marca a primeira parceria de David Fincher com Brad Pitt, que se estenderia por filmes como Clube da Luta e o Curioso Caso de Benjamin Button. Um clássico do gênero de suspense, o filme conta a história de dois policiais, Somerset (Morgan Freeman) e Mills (Brad Pitt) que investigam assassinatos interligados, que fazem referência aos sete pecados capitais.
Por se tratar de uma investigação, grande parte das cenas são em locais fechados. Ao percorrer os dos assassinatos, o diretor prioriza a exibição dos corpos, costurada por pequenos diálogos entre os protagonistas. O tempo constantemente chuvoso da cidade onde ocorre a história também ajuda na criação dessa atmosfera densa. A trilha sonora excepcional de Howard Shore merece destaque, também.
Prefiro não falar muito sobre a identidade do antagonista para não estragar a experiência de quem ainda não assistiu, mas é uma atuação executada brilhantemente. O roteiro inteligente junto desses outros elementos cria uma narrativa que eleva a tensão de quem assiste até culminar no ápice do filme, onde todos nossos preceitos são postos em cheque. O terceiro ato do filme é avassalador. Uma das maiores cenas do cinema, sem dúvidas. Mais uma vez, a habilidade de surpreender de David Fincher te deixa desnorteado.