Crítica: A Vida Invisível

Reprodução: El Pais Brasil

O representante do Brasil no Oscar de 2020 provavelmente não será um estouro de bilheteria, imagino eu, como Bacurau. Filmes um tanto quanto subjetivos e sem tanto apelo comercial geralmente têm dificuldades nos cinemas brasileiros. Espero, no entanto, que o fator “Oscar” chame a atenção daqueles menos cinéfilos que outros, dando oportunidade para mais pessoas apreciarem essa obra magnífica e poética de início ao fim.

A Vida Invisível, do diretor Karim Aïnouz, ao contar a vida de duas irmãs separadas quando jovens, no Rio de Janeiro da década de 50, fala mais do que apenas sobre duas narrativas individuais. O filme retrata as adversidades do “ser mulher” no Brasil e as frustrações de se viver em uma sociedade onde se é invisível, apenas por “ser feminino”. Apesar de viverem em realidades diferentes depois de separadas, as irmãs permanecem ligadas por memórias e pelo grande afeto que nutrem uma pela outra.

Tanto Julia Stockler, que interpreta a irmã mais velha Guida, quanto Carol Duarte, Eurídice, entregam atuações fortes e comoventes. As atrizes entendem suas personagens e as desenvolvem de maneira condizente, suas peculiaridades se combinando com aquilo que é comum a todas as mulheres.

Reprodução: CineVitor

Com bons diálogos e roteiro, o filme se desenrola com naturalidade e fluidez – mérito, também, de uma excelente direção -, fazendo com que o público crie uma relação intimista com as personagens e com as situações angustiantes pelas quais elas passam. A fotografia se deixa brincar com as cores e rende cenas belíssimas, tornando o longa uma obra de arte.

Uma experiência emocionante principalmente para as mulheres, A Vida Invisível traz uma história impactante, pesada e intensa imersa na sutileza de um roteiro bem trabalhado, em uma linda fotografia e em atuações extremamente sensíveis.