Quase 20 anos depois de lançar Embriagado de Amor (2002), Paul Thomas Anderson voltou a flertar mais ativamente com o romance em Licorice Pizza (2021). Entre as duas produções, o diretor retratou o sul dos Estados Unidos no início do século passado, Londres e os EUA dos anos 50 e a Los Angeles hippie da década de 70. Pois bem, agora PTA mantém seu foco na cidade dos anjos, lar de suas memórias mais antigas e nostálgicas.
Sem nenhum floreio, somos apresentados aos dois protagonistas do longa. Gary Valentine (Cooper Hoffman), um carismático estudante de 15 anos, e Alana Kane (Alana Haim), uma funcionária de fotografia de vinte-e-alguns-anos. Assim como boa parte das obras de Anderson, a trama não segue um fio condutor delineado, surpreendendo o espectador com os rumos de seus personagens.
Através de elipses e saltos temporais, vemos a evolução de Gary e Alana, juntos e separados. Mesmo com a diferença de idade e de criação, são dois jovens com manias, espinhas e paixão pela vida e por Los Angeles. Não à toa que os dois, em poucos minutos, viram sócios.
Licorice Pizza foi filmado em 35mm, o que, combinado com o uso de lentes antigas, instantaneamente transporta o espectador para a década de 1970. Ao lado de Anderson, Michael Bauman assina como diretor de fotografia, sua primeira participação na função.
Embora apresente os bastidores de Hollywood e ofereça uma certa ironia metalinguística similar a Era Uma Vez em Hollywood (2019), de Quentin Tarantino, PTA foge do revisionismo histórico para contar suas próprias lembranças do subúrbio angelino.
É a partir deste universo que surgem personagens como Joel Wachs (Benny Safdie), Jack Holden (Sean Penn), Jon Peters (Bradley Cooper), Rex Blau (Tom Waits), Jerry Frick (John Michael Higgins) e Mary Grady (Harriet Sansom Harris), que roubam a cena com alguns dos momentos mais engraçados do ano.
Lindo, real e divertido, Licorice Pizza oferece uma gama de sentimentos e apresenta um Paul Thomas Anderson tão maduro quanto seus últimos trabalhos, na medida em que revisita o início de sua carreira – há aqui uma semelhança muito maior com Jogada de Risco (1996) do que com Trama Fantasma (2017), por exemplo. Apesar de seus milhões de habitantes e de suas centenas de arranhas-céus, a Los Angeles sob o olhar de PTA sempre será um lar aconchegante, confuso e cheio de paixão.