Não é muito fácil manter sua originalidade no sétimo filme de uma franquia. Mais do que isso, evitar confusões de enredo e grandes mudanças de tramas parecem ser dificuldades ainda maiores. Portanto, é seguro dizer que Transformers: O Despertar das Feras deixa claro os empecilhos em seu caminho.
A aposta da Paramount Pictures e da Hasbro deu extremamente certo em 2007 quando os estúdios decidiram lançar Transformers. O longa de Michael Bay tinha tudo que um blockbuster precisava para ser considerado um sucesso: um astro em ascensão, atores carismáticos e, claro, uma bilheteria recheada.
Os estúdios buscaram repetir o sucesso e, mesmo sem a mesma recepção da crítica, viram os números de bilheteria aumentarem cada vez mais. A rejeição de Transformers: O Lado Oculto da Lua e as polêmicas de Shia Labeouf fizeram com que a Paramount repensasse a franquia, mas uma coisa era certa: novos filmes de Transformers seriam lançados.
Assim veio Mark Wahlberg e a grande expansão da saga, adicionando dinossauros, cavaleiros templários e até mesmo ameaças planetárias, com Cybertron sendo cada vez mais presente. A paciência do público foi diminuindo e, embora Transformers: O Último Cavaleiro tenha feito US$ 605 milhões em bilheteria, a Paramount teve um prejuízo gigantesco com o longa.
Tudo isso nos leva a uma nova reformulação em toda a franquia, optando pelo reduzido Bumblebee e pela manutenção da nostalgia no novo O Despertar das Feras. No longa, não temos nenhum rosto conhecido e nenhuma saga gigantesca – ainda que a equipe tenha investido o dobro do spin-off de 2018.
O filme consegue expandir o universo dos robôs de uma maneira mais orgânica, adicionando à trama os Maximals, criaturas que se transformam em feras pré-históricas, e os Terrorcons, raça antiga aliada ao deus-robô Unicron.
Retcon e mudanças na trama
O universo de Transformers é confuso. Sem uma história firme em sua base, a franquia desmoronou ao buscar explicar o desnecessário. Enquanto o longa inaugural de 2007 triunfou em sua simplicidade narrativa e seu visual monumental, suas sequências perderam o apelo ao investir nos lugares errados.
Com isso, Michael Bay encerrou uma trilogia em um tom desastroso, perdendo peças importantes ao longo do caminho. Um novo enredo surgiu e, embora tenhamos voltado para a década de 90, Transformers: O Despertar das Feras parece acima de tudo um retcon.
O filme de Steven Caple Jr. – que assume no lugar de Bay – buscou se aproximar da origem da franquia e diminuiu o tom exageradamente açucarado das produções com Mark Wahlberg. Nesse sentido, é inegável o impacto de Bumblebee no novo rumo da saga, cujos fracassos recentes levaram a uma série de cancelamentos e remodelação.
Transformers: O Despertar das Feras possui muita mais alma que seus filmes anteriores. Ainda há muito vazio na trama e um sentimento de industrialismo em grande parte das sequências, mas já é um avanço.
Se a introdução de Mark Wahlberg foi um retorno ao espírito americano tradicional e conservador esperado de um governo republicano, Anthony Ramos se torna a cara de uma nova direção buscada pela franquia. Sua presença é um dos pontos altos da trama, sendo o fio condutor de tudo que acontece ao longo das 2 horas e 16 minutos.
A escolha de Ramos está diretamente atrelada à construção do novo universo. Transformers: O Despertar das Feras realiza uma ótima introdução a um Brooklyn multicultural e multifacetado, tendo como cerne o movimento hip-hop. O longa se aproveita da ressurgência da década de 90, desde a trilha sonora até o Jordan 6 do protagonista.
Ao final da trama, é possível ficar dormente com mais uma história de Autobots, Decepticons e qualquer outra raça de robôs gigantes alienígenas sendo levados a sério demais. Em resumo, Transformers consegue ser tão canalha que oferece a maior canalhice possível poucos minutos antes do fim: tirar um sorriso de canto de boca de seu espectador.