Não estava em meu bingo de 2023 ver um filme de super-herói da DC com tantas homenagens à cultura latinoamericana, sem filtro sépia e com personagens, ainda que um pouco estereotipados, muito próximos da nossa realidade. Como latinos, conseguimos encontrar em Besouro Azul um afago que aquece o coração. É com referências da Maria do Bairro ao Chapolin Colorado que o longa conquista o espectador, pelo menos nós. Já diria o meme, I didn’t ask to be born latina, nomás tuve suerte.
Besouro Azul, dirigido por Ángel Manuel Soto e baseado nos quadrinhos da DC, segue o jovem mexicano Jaime Reyes (Xolo Maridueña) que, recém-formado, volta para casa cheio de aspirações para o futuro. Ele se depara com uma antiga relíquia de biotecnologia alienígena, conhecida como o Escaravelho, que escolhe Jaime para ser seu hospedeiro simbiótico. O problema é que o item é de grande interesse da empresária Victoria Kord (Susan Sarandon), que une forças a Carapax (Raoul Max Trujillo), uma criação à la Frankenstein de Victoria, para recuperá-lo. Jaime conta com a ajuda da família e da sobrinha de Victoria, Jenny Kord (Bruna Marquezine), para salvar o Escaravelho.
Centrado nos laços familiares, Besouro Azul pode lembrar a jornada do Homem-Aranha (sem contar que um é um inseto e outro um aracnídeo, o que é um pouco suspeito). A família de Jaime, seu pai Alberto (Damián Alcázar), sua mãe Rocio (Elpidia Carrillo), sua irmã Milagro (Belissa Escobedo), seu tio Rudy (George Lopez) e sua avó Nana Reyes (Adriana Barraza), garante o alívio cômico e também possíveis lágrimas.
O filme facilmente poderia cair na grande lista de roteiros batidos de origens de super-heróis, mas é nas especificidades de Jaime que se difere e traz um respiro de ar fresco para um formato onde não há muito como inovar. Apesar de não ser um dos melhores em efeitos especiais (o que acredito ser em virtude de um orçamento minguado perto das superproduções como Batman ou Superman), é até um pouco surpreendente o que consegue fazer para a atmosfera futurística de Palmera City.
O Brasil inteiro vibrou com a vitória de Bruna Marquezine quando foi escolhida para fazer parte do universo dos filmes de super-heróis hollywoodianos da DC. Desde pequena, a atriz brilha nas telinhas e telonas brasileiras e desta vez não seria diferente. Ela entrega um inglês perfeito, mas ganhamos um gostinho do português em algumas cenas, o que tornou a sua personagem, filha de um norte-americano com uma brasileira, muito mais natural. Xolo Maridueña é encantador e determinado em fazer Jaime amado por todos, e consegue. Ele e Bruna, que já mostram uma proximidade na vida real, funcionam muito bem juntos.
É uma pena que o filme tenha sua estreia em meio à greve de Hollywood. Nossa conterrânea poderia ter uma projeção global muito maior, mas aderir à greve pode ter sido o ponto-chave para isso acontecer no futuro. Para quem, assim como eu, não é tão aficionado por super-heróis, Besouro Azul vale seu ingresso para o cinema e pode surpreender com sua leveza, humor, ação, originalidade e um toque decolonial. Sem spoilers, digo que não é recomendável sair da sala antes do final dos créditos.