Divulgação. Globo Filmes

“Rindo à toa”, produzido pela Globo Filmes, é um documentário que, com estilo observacional e historicista, procura refletir sobre o estilo da comédia praticada no Brasil a partir da reabertura política em 1988. O filme aborda a gênese e nascimento dos humoristas nos anos 80 e sua relação com seus ídolos da juventude, que atuaram sob a censura do regime militar explorando em sua produção mais a sugestão do que a expressividade; a trajetória resumida dos principais ícones do humor de 1988 a 2000 e sua autocrítica sobre a relevância política e social de seus estilos, refletindo sobre questões como originalidade, vanguarda, limitações (como o politicamente correto) e o alinhamento comercial/editorial com o crescimento vertiginoso do consumo do gênero no país.

O documentário busca intercalar a narrativa dos humoristas com cenas consagradas do humor nacional. Participam do filme diferentes personalidades do cenário humorístico: comediantes, atores, cartunistas e diretores. Os cassetas, Miguel Falabella, Regina Casé, Boni, Daniel Filho, Angeli, Laerte, Tom Cavalcante, Pedro Cardoso, Andrea Beltrão e Marisa Orth são alguns dos nomes que dão voz as histórias célebres do humor brasileiro.

Divulgação.

Infelizmente, o documentário se torna repetitivo depois dos 20 minutos, já que o ritmo segue dividido entre narrativa e trechos históricos do humor. Isso gera uma dispersão no telespectador, que começa a se questionar o quanto vale a pena terminar de assistir aquela avalanche de contos – que certamente são ótimos para quem os vivenciou, mas deixam a desejar quando contados.

Dentro da história brasileira, o humor veio para quebrar e ridicularizar alguns padrões moralistas da sociedade. Durante a ditadura militar, o humor foi tão censurado quanto as músicas da MPB: qualquer traço de considerada crítica aos militares ou aos valores familiares eram imediatamente combatidos e impedidos da livre circulação. Já no processo de redemocratização, os humoristas começaram a usufruir de maior liberdade para fazer rir. É nesse período que o humor começa a ter um teor libertário em diversos sentidos. Um dos pontos que passa a ser mais explorado dentro das comédias é tudo aquilo que pode ser sexualizado. para isso, os humoristas justificam o uso do sexo nas nossas raízes latinas.

Desde então, o humor brasileiro vem sofrendo experimentações e mostrando que existe lugar ao sol para diferentes formas de fazer o outro rir. Ainda hoje, Chico Anysio e Jô Soares são considerados alguns dos maiores comediantes brasileiros de todos os tempos. Eles apostavam em quadros, bordões e uso da claquete para construir personagens e situações cômicas. Seus sucessores, como os cassetas, apostavam em paródias e o humor conhecido como ‘besteirol’.

Contudo, os humoristas ainda parecem congelados no tempo. Quando questionados sobre o politicamente correto, eles acreditam que o humor não permite limites. Realmente, o gênero cômico é alguma das coisas mais difíceis para se trabalhar. É necessário o conhecimento do que é engraçado para o outro e não somente para si. Entretanto, assim como qualquer coisa na vida, é necessário ter o famoso limite. Sabe por quê? Porque a piada não tem graça se ela fere o coleguinha. O teu limite da liberdade de expressão vai até onde começa o direito do outro em não ser motivo de chacota.
Dentro de um país que mata aqueles que são considerados diferentes do padrão heteronormativo, falar que não existe limite para o cômico é uma piada de muito mal gosto e insensibilidade. As minorias sociais não são piada. Elas não precisam de deboche. Elas precisam de respeito.

O que pode ficar de positivo de ‘Rindo à toa’ é a forma como os humoristas foram e ainda são brilhantes para debochar das mazelas vividas no Brasil. O humor alcança toda a sua potência artística quando ele consegue fazer rir enquanto critica os problemas da sociedade.

Ficha Técnica
Filme: Rindo à Toa – Humor sem Limites
Direção: Alê Braga, Álvaro Campos
Elenco: Miguel Falabella, Regina Casé, Boni
Data de lançamento: 30 de maio de 2019
Avaliação: 1/5


A crítica é de responsabilidade da autora. 

Escrito por

Caroline Oliveira

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