Reprodução: Netflix |
Após Martin Scorsese se consagrar no cinema, o diretor volta em grande estilo em “O Irlandês”, uma história sobre como envelhecer no mundo da máfia. O longa narra a vida de Frank Sheeran (Robert De Niro), um sindicalista veterano da Segunda Guerra Mundial que, por ironia do destino, começa a realizar pequenos trabalhos de entrega para o mafioso Russel Bufalino (Joe Pesci), ganhando sua confiança. Como consequência, acaba se tornando um grande assassino.
A trama respira. Nada é apressado. O roteirista Steven Zaillian dá espaço para que possamos conhecer o comportamento dos personagens e suas motivações. Frank, durante sua velhice em um asilo, conta ao espectador sobre os eventos que o colocaram no mundo do crime organizado, seu envolvimento com a família Bufalino e as escolhas que culminaram no desaparecimento de seu amigo Jimmy Hoffa (Al Pacino), líder trabalhista.
Scorsese é uma inspiração para quem gosta de se aventurar nos dramas com paixão e intensidade. Embora seu olhar busque captar a vida de um imigrante brutalizado em buscar por pertencimento, o longa é uma reflexão de toda a sua trajetória até a chegada no ápice. Não estamos falando somente da máfia, mas também de política, pecados, demônios e medos. A escolha nada sutil em reunir grandes nomes como Robert De Niro, Al Pacino e tirar Joe Pesci da aposentadoria pode ter soado como um reboot de “Os Bons Companheiros” (1990). No entanto, ao abraçar a tecnologia para rejuvenescer os atores em cena, Scorsese mostra que aprendeu a valorizar a nova Hollywood sem deixar de lado sua visão sobre o mundo.
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É uma narrativa densa que percorre a história de Frank colidindo com a de outros personagens. A técnica utilizada por Scorsese é a tradicional: durante o longa percebemos diversos personagens que tiveram envolvimentos com a máfia local. Quando somos apresentados, temos um pequeno roteiro de sua vidas na tela. Além da fala de Frank, a estrutura narrativa nunca nos deixa sozinhos.
Os diálogos são a peça central, mais do que a estética impecável do longa. Olhar Pesci e De Niro sentados em volta de uma mesa de bar falando sobre negócios é cativante e nada menos que alucinante. Ali não está presente apenas o personagem e, sim, toda a experiência dos atores que completam suas atuações. Pesci é hipnotizante. Ele é imponente sem precisar levantar a voz. Já Pacino, que estava fazendo comédias, ressurge em seu melhor papel após alguns fracassos. Hoffa é ativo e reativo. É uma explosão diante da tela. O último do trio, De Niro é a calmaria entre as extremidades. Uma atuação mais discreta e menos marcante entre seus colegas. Mas que se mostra importante no modo como os quebras cabeças são montados.
O filme exala masculinidade. Porém, não perde conteúdo. O elenco de apoio é forte e atrizes como Anna Paquin, que interpreta Peggy Sheeran, filha de Frank, mostra as digressões da vida, embora a personagem apareça pouco em cena. Sua presença é definitiva para que as dores e pecados comecem a corromper. O Irlandês é o melhor filme do ano. Não porque usa a tecnologia para enriquecer o roteiro, não porque tem grandes astros ou porque é dirigido por um diretor respeitado. É um filme de máfia, sem pressa para o clímax. Ele afasta a futilidade de quem tem facilidade para maratonar oito episódios de uma série em oito horas e traz para perto quem entende que o cinema precisa do tempo para respirar.
Ficha Técnica
Filme: O Irlandês
Diretor: Martin Scorsese
Data de lançamento: 14 de novembro de 2019
Elenco: Robert De Niro, Al Pacino e Joe Pesci
Trailer: