Talvez seja preciso apelar para a sátira para mostrar que a comédia também pode ser levada a sério.
O diretor Taika Waititi tem uma característica singular e um estilo pomposo quando o assunto é filmes. Depois de comandar a mudança de Thor nos cinemas, Waititi reescreveu uma história real com fragmentos históricos para afirmar ainda mais sua potencialidade no ramo.
Jojo (Roman Griffin Davis) é um menino de anos que vive com sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) na Alemanha nazista. Seu pai está lutando na guerra e a única opção para as crianças da cidade é passar o tempo extra indo para acampamento dedicado às práticas nazistas. Para se entreter, Jojo tem um amigo imaginário, que é, ninguém mais, ninguém menos que Hitler.
O roteiro, também assinado por Waititi, é linear. O menino se une no acampamento com seu melhor amigo Yorki (Archie Yates) e juntos planejam como continuar o trabalho de disseminação da humanidade. Acredite, mesmo falando coisas horríveis de ouvir, Yorki tem seus tons de fofura. Enquanto isso, Rosie batalha para que seu filho tenha uma infância melhor, mesmo sabendo que o menino é difícil de lidar.
A narrativa dosa bem entre o humor e a dramaticidade. É inegável que, de alguma forma, o diretor constrói as cenas para que possamos esquecer da complexidade do tema e nos sentimos contentes com a situação E, embora a originalidade de Waititi em acrescentar dinâmica e leveza para no contexto, a atrocidade sempre fica evidente. É repugnante ver jovens idolatrarem uma figura tão cruel e emblemática para a sociedade. A clareza e objetividade dos diálogos escritos para a trama transformam duras palavras em doçuras.
O longa é estacionado nos anos 1940. A produção não mudou os figurinos utilizados na época. Esteticamente, parece que estamos olhando para um filme de Wes Anderson. Até mesmo a sutileza na postura de Elsa Korr (Thomasin McKenzie), uma menina judaica, a qual Rosie abriga secretamente, remete a uma das personagens de Anderson. O elenco ainda conta com Sam Rockwell, no papel de comandante do acampamento, Rebel Wilson e Alfie Allen. Porém, ambos os três são subaproveitados. A cereja do bolo é a atuação de Roman Griffin Davis. Um nacionalista feroz e incontrolável, que aos poucos mostra sua vulnerabilidade. A atriz Scarlett Johansson é a ponte de equilíbrio na narrativa. Com uma cena, ela consegue encantar com todo seu talento. Ainda tem Waititi, que interpreta Hitler. Não é um papel cobiçado, mas que complementa o personagem de Jojo.
A comédia em si não encontra-se somente nas falas afiadas entre os indivíduos, mas também na corporeidade de cada um. Entretanto, é aí que o filme começa a pesar. O diretor quis demonstrar que poderia ir além das piadas. O longa é, no segundo ato, um pouco enfadonho e começa a cansar devido a previsibilidade. Talvez faltou uma última revisão que enxugaria o roteiro na medida certa.
Jojo Rabbit não é um filme de guerra. É uma história de superação e amizade em meio ao conflito. É a maneira de Waititi atenuar o contexto e passar uma lição para todos que assistem.
Ficha Técnica Filme: Jojo Rabbit Diretor: Taika Waititi Data de lançamento: 6 de fevereiro de 2020 Elenco: Roman Griffin Davis, Scarlett Johansson e Sam Rockwell. Trailer: