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De Pernas Pro Ar 3 dá sequência a história da empresária Alice Segretto (Ingrid Guimarães) que conquistou o mundo com sua rede de produtos eróticos – Sexy Delícia. Ela, novamente, tenta se dividir entre o trabalho e a família, agora com o acréscimo da filha Clarinha (Duda Batista). Pela expansão mundial das suas filiais, Alice passa mais tempo em hotéis e aeroportos do que perto dos filhos e do marido, perdendo momentos importantes como os primeiros passos da caçula e a formatura de Paulinho (Eduardo Mello), tendo que arcar, consequentemente, com a culpa e o medo de ser uma péssima mãe e esposa para João (Bruno Garcia).
Por isso, Alice decide entregar a diretoria da empresa para sua mãe, Marion (Denise Weinberg), e se dedicar integralmente à família, tentando assumir o controle do lar. Como empresária, ela sempre foi viciada em trabalho e em controlar rigorosamente cada passo dado dentro da sua empresa. Como mãe e esposa, ela não é diferente. Por ter perdido tantos momentos com seus filhos, fica difícil para Alice encarar a realidade e entender que Paulinho é um adolescente e, naturalmente, irá ter relacionamentos amorosos.
Quando surge Leona (Samya Pascotto), a competidora adormecida dentro de Alice vem à tona e ela se vê ameaçada pela jovem empresária do ramo de tecnologia e produtos eróticos. Especialmente, porque além de concorrente nos negócios, Leona começa a namorar o filho de Alice, o que desperta o ciúmes materno de quem nunca tinha dividido Paulinho com outra mulher.
Por se tratar do terceiro episódio da franquia, o público tem uma ideia do que esperar e do formato do filme. Contudo, a necessidade de desfechos inesperados é o que justifica um novo filme. Isso não acontece neste longa. No primeiro episódio, o trunfo era a redescoberta sexual da Alice e o reencontro consigo mesma, no segundo, ela é obrigada a refletir sobre a sua compulsão por trabalho e redefinir as suas prioridades, e no terceiro, acontece mais ou menos tudo que já aconteceu nos dois primeiros filmes. Mas, sem metade do humor e da discussão sobre sexo e prazer. Até então, o roteiro da franquia tinha conseguido discutir de forma irreverente esses tabus sociais e ajudado, quem sabe, a desconstruir muitas pessoas, fazendo com que elas passassem a lidar de maneira mais natural a respeito de orgasmos e fetiches.
De Pernas Pro Ar 3 apresenta um roteiro sem ineditismos, com exceção da relação travada entre Alice e Leona, que merece destaque. Inicialmente, há uma sensação de ameaça por parte da Alice, mas as duas conseguem desconstruir e ressignificar sua convivência, mostrando que mulheres não são rivais e que juntas podem muito mais. Infelizmente, a relação entre Alice e João seguiu os mesmos moldes e ações dos outros filmes. João não consegue compreendê-la e aceitá-la, e ela, por sua vez, não consegue equilibrar tudo sozinha e ainda precisa aprender a delegar tarefas e priorizar momentos. No entanto, é ridícula a demonização que o João faz da importância que o trabalho tem para Alice. Ter uma rede espalhada pelo mundo é o seu sonho e o fato dela trabalhar compulsivamente é algo passível de tratamento psicológico e que deve ser encarado como uma doença. Enquanto que, ele se sentir inferior a Alice também é algo que pode e deve ser discutido em uma sessão com o terapeuta. Para mim, João e Alice já deviam ter se separado no primeiro filme, o que teria poupado muito sofrimento e culpa para ela.
Apesar do roteiro, não deixa de ser um filme leve que rende algumas risadas. O ponto alto é a beleza da fotografia, um filme bonito que tem como pano de fundo Paris e algumas paisagens encantadoras.