Crítica: Calmaria

O diretor Steven Knight, responsável por sucessos como “Senhores do Crime” e “Coisas Bonitas e Sujas” – que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro -, dirige, escreve e produz Calmaria. A sinopse entrega um suspense de arrepiar, contudo, não passa de uma trama superficial e desnecessária. O veterano de guerra e pescador Baker Dill (Matthew McConaughey) vive uma vida tranquila na Ilha de Plymouth, mas quando sua ex-esposa Karen Zariakas (Anne Hathaway) reaparece, as coisas saem do controle. Karen pede para Baker matar seu marido abusivo,  Frank Zariakas (Jason Clarke), para proteger seu filho, Patrick (Rafael Sayegh).

A primeira vista o roteiro desperta curiosidade e consegue manter um bom nível de suspense. Percebe-se que Baker é um homem atormentado e a única vida que ele conhece é a de pescar e transar com Constance (Diane Lane). Ao chegar na ilha, descobrimos que Karen e seu filho vivem um relacionamento abusivo. No entanto, as motivações para assassinar o marido não são convincentes o suficiente. A arrogância e incerteza de Baker são resultados da guerra, já Karen mostra estar mais preocupada com seu bem estar do que com o filho: um grande erro do roteiro.

O mais bizarro é a ligação de Baker com Patrick. Distante do filho desde os três anos de idade, o longa traz flashbacks de ambos juntos para tentar provar uma relação. Porém, o pescador parece tão distante do filho que nem o artifício usado como laço convence. Os vencedores do Oscar  Matthew McConaughey e Anne Hathaway apenas atuam bem em cena. Sem  motivação maior do que pescar todos os dias o peixe mais cobiçado da ilha, chamado “Tuna”, e ficar lamentando o passado, é impossível criar alguma empatia pelo personagem Baker, assim como por Karen, usada  somente como mulher tentadora capaz de seduzir qualquer homem. Já Frank é o típico vilão caricato, muito mal aproveitado, bem como Constance, que serve de par romântico de Baker. Todos os personagens são superficiais e sem grande pretensões.

Knight trabalha temas como traição, vingança e amor, porém, desconstrói essa trama para ousar e nem mesmo as belas paisagens em alto mar salvam o longa. A narrativa se perde quando ele decide apostar em uma nova trajetória e Calmaria passa do gênero suspense para ficção científica. Acredite, a reviravolta não é o grande problema, mas sim como ela é construída a partir da perspectiva de Patrick, chega um ponto em que o filme se torna cansativo e não sabemos mais distinguir o real da imaginação. Calmaria pretendia deixar o público boquiaberto e conquistar os críticos mais céticos, no entanto, ao tratar de temas como abuso, se perdeu nos estereótipos. As atuações são patéticas e sem graça, nem mesmo a química de McConaughey e Hathaway, por terem trabalhado juntos em “Interestelar”, resolve.

Foi dada a largada, a lista dos piores filmes do ano já começou.