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Reprodução/Netflix
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Depois do lançamento de Bandersnatch (2018), o primeiro filme interativo realizado até o momento, Black Mirror entrega uma boa e consistente temporada. Agora com três episódios, os produtores se concentram em focar mais no roteiro e trazem elementos que a série sempre abordou. Mesmo ficando com o gostinho de quero mais, esse ano é composto por histórias menos audaciosas, porém, mais coerentes.
1- Striking Vipers
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Reprodução/Netflix |
Quando vi pela primeira vez o trailer desse episódio, lembro-me de identificar o tema principal da série: as relações humanas e o uso da tecnologia. Teoricamente, é o mesmo assunto de sempre, mas como poderia ser diferente dessa vez? O criador e roteirista
Charlie Brooke usa novamente elementos de
games para criar “
Striking Vipers”. Na história, dois amigos se reencontram após anos separados. No dia do aniversário de 38 anos de Danny (
Anthony Mackie), o amigo Karl (
Yahya Abdul-Mateen II) presenteia com um jogo chamado Striking Vipers – título do episódio. O game nada mais é do que um jogo de luta que imita, até então, Street Fighter – porém, em realidade virtual. Durante o jogo, ambos assumem o corpo de seus respectivos avatares e acabam desencadeando uma sequência de acontecimentos entre eles que acaba envolvendo também Theo (
Nicole Beharie), esposa de Danny.
Era só mais um episódio típico de Black Mirror, porém o previsível acaba se tornando imprevisível. Mesmo com os atuais problemas afetando a vida do casal, a trama foca na individualidade e como isso pode causar grandes estragos em nossas vidas. Abordando amizade, empatia e sexualidade de maneira crescente, o roteiro faz uma subversão do comum. Uma vida típica e tranquila muitas vezes não preenche o vazio da necessidade de explorar algo novo. O ritmo se mantém constante. Você sabe que em algum momento, algo sombrio irá acontecer e, que a culpa cairá sobre a tecnologia. Porém, chega o ponto em que você passa a analisar não mais efeito da mesma, e sim, o comportamento humano diante das dificuldades cotidianas.
Com uma boa produção e uma montagem bem estruturada, a trama ainda conta com outras presenças ilustres, Pom Klementieff, de Guardiões da Galáxia e Ludi Lin, de Power Rangers. Além disso, o episódio é quase que totalmente rodado nas ruas, apartamentos e escritórios da cidade de São Paulo. É o melhor episódio dessa temporada e merece cada minuto de seu atenção.
2- Smithereens
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Reprodução/Netflix
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Instigante do começo ao fim. Assim é o segundo episódio, trazendo um problema atual para dentro do contexto da série. A história é de um motorista de aplicativo chamado Chris (
Andrew Scott) que sequestra um funcionário da empresa responsável por uma rede social idêntica ao Twitter. A ideia do sequestro é chamar a atenção do dono da empresa, Billy Bauer (
Topher Grace). No entanto, as coisas começam a dar errado. Chris acaba sequestrando um estagiário e, diante disso, os executivos da empresa, juntamente com a polícia local, tentam negociar com ele.
O roteiro em si segue uma narrativa simples e relevante nos dias de hoje. Mesmo pressupondo como a história acabaria, a atenção construída e bem desenvolvida te prende a cada minuto. Até esse ponto, o uso da tecnologia fica em segunda parte e a questão psicológica do personagem ganha força. Porém, em nenhum momento estamos distantes do caos em que esse uso pode causar. Durante o sequestro, outros personagens são introduzidos, sempre induzidos à presença viciosa do uso das redes sociais.
Minha preocupação assistindo era como seria criada a empatia com Chris, visto que ele era um cidadão fora da lei. Aliás, a trama, até os minutos finais, não faz questão de criar esse vínculo,. Somente quando o contexto geral da história vai se desenrolando, percebemos que a atitude do motorista vai além de problemas mentais.
Além disso, o episódio não deixa de dar uma cutucada na cultura excessiva por status social. Não tem grandes reviravoltas, concentra-se apenas em abordar uma vida, que poderia ter sido de qualquer outro.
3- Rachel, Jack and Ashley Too
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Reprodução: Elle |
Você sabe aquela história que faz crítica a indústria cultural? Pois bem, eis o episódio. Diferente de todas as tramas contadas em Black Mirror, no entanto, essa é a história que mais próximo chega do que “Metalhead” fez na temporada anterior. A tecnologia é usada de maneira secundária, servindo de apoio para trazer ganância em Ashley Too, ou o caos, no preto e branco.
A jovem Rachel (Angourie Rice) passa por problemas após a morte de sua mãe e acumula desentendimentos com sua irmã mais velha, Jack (Madison Davenport). Para isso, Rachel busca inspiração em sua cantora favorita, Ashley O (Miley Cyrus), bem como, nas letras de suas músicas, que falam sobre esperança e autoconfiança. No entanto, a cantora entra em coma, e Rachel busca inspiração em uma boneca robótica de Ashley. Ali que as coisas começam a mudar.
Fazendo um paralelo constante na vida das jovens, o episódio traz além do que uma reflexão. Ele dá sinal de como a indústria pop da música pode ser abusiva, produzindo imagens artificiais. Acerta em cheio na conscientização da pessoas, mas apresenta um final previsível.
O episódio foi feito para Cyrus brilhar como uma diva. Não que tenha sido ruim, ela realmente está em uma de suas melhores e mais consistentes atuações da carreira. Falo sério! O design de produção, assim como a sonoridade, ajudam a construir uma trama gostosa de assistir até o final. Mas no somatório geral, transforma-se em uma gangorra, começa falando sobre assuntos sérios, como depressão e termina de um jeito mais cômico. E com o bendito final feliz.