Depois de um período de renascença no cinema com papéis em Joe, Mandy, Pig e O Peso do Talento, Nicolas Cage segue sendo um pastiche de si mesmo com sua participação em Renfield. Porém, ao falar da mais nova adaptação de Drácula, de Bram Stoker, seria injusto levar todos os holofotes à performance do ator.
Dirigido por Chris McKay, Renfield propõe uma mudança no viés da clássica obra. O filme, além de adaptar a história para 2023, é contado sob o ponto de vista do servo do Conde Drácula, Robert Montague Renfield. O longa, inclusive, faz questão de usar a palavra correta da literatura vampiresca: Renfield é um “familiar”.
Após anos servindo o temido vampiro e levando presas para que o suposto vilão pudesse saciar sua sede, é Renfield quem fica saciado. O protagonista cansou de seu trabalho, e o que antes eram poderes gerados por sua ganância se tornaram, agora, o peso de uma maldição.
É curioso entender as referências do diretor ao construir o ambiente do filme. Embora toda a atmosfera e abordagem cômica remeta a O Que Fazemos nas Sombras e longas similares, é John Carpenter quem é evocado por McKay. Afinal, em menos de cinco minutos, somos introduzidos ao folclore e tom de Renfield em sua totalidade. O espectador mal sentou em sua poltrona e o mundo está sendo construído em sua frente, com Drácula, exorcismos, corpos explodindo e cabeças sendo decapitadas por socos.
O tom inicial bem definido, no entanto, dá lugar a uma incerteza de direção. Por vezes, Renfield parece mais um episódio ou um conto do que um longa-metragem. A curta duração, nesse sentido, é um fator negativo, fazendo com certos aspectos sejam apressados na narrativa.
Divertido e criativo, Renfield possui um potencial não explorado em sua totalidade, mas, no fim das contas, o saldo é positivo. O gosto residual do longa é, inegavelmente, sua inventividade em cenas como os nunchakus humanos e toda a linguagem própria de violência que o filme constrói. Mais do que isso, a química de Nicholas Hoult e o regozijo de Cage no papel de Drácula transpassam qualquer dúvida sobre a produção.