Matt Reeves percebeu que, para continuarem relevantes, as adaptações cinematográficas de histórias em quadrinho precisam sair do escopo de “filme de super-herói”. Embora tenha se criado a ideia de que esse seria um gênero próprio, ele não precisa ser. Em Batman, o diretor e roteirista utiliza o personagem do homem-morcego para criar um suspense psicológico com elementos do neo-noir. Ao longo de 3 horas, o espectador é introduzido e imerso em um universo gótico onde ninguém é o que parece. A cidade está repleta de corrupção e a esperança parece um sonho distante. Gotham só conhece um nome: vingança.
Ainda iniciante na vida de combatente do crime, o Batman de Robert Pattinson consegue representar bem toda a raiva e as dúvidas que o jovem Bruce Wayne carrega consigo. Por ainda não ter o controle que a experiência traz, muitas vezes, o espectador consegue ver um lado mais brutal do vigilante. No entanto, o foco do longa está em seu lado detetive. E o ator, que ficou conhecido mundialmente como astro da saga Crepúsculo, desempenha brilhantemente o papel.
Uma série de assassinatos coloca os grandes figurões de Gotham e a polícia em alerta. O responsável pelos crimes deixa recados para o Batman nas cenas dos assassinatos, fazendo com que o policial Jim Gordon (Jeffrey Wright) se una ao mascarado para descobrir quem está por trás de tudo isso. Inicia-se, então, uma grande caçada pelo culpado e o longa se transforma em um suspense psicológico.
Inspirado por filmes como Zodíaco e Seven, do diretor David Fincher, abre-se um espaço de diálogo entre o justiceiro e o vilão, onde há códigos para serem decifrados, mensagens escondidas e corridas contra o tempo para impedir que crimes sejam cometidos. A constante chuva é um outro elemento bastante utilizado aqui e nos filmes de Fincher, aumentando a sensação de mistério.
A chuva soma-se a uma Gotham City que é quase como um personagem. Gótica, decadente e suja, lembra muito a mesma cidade abordada no filme Joker (2019). A corrupção que assola a cidade, assim como o pessimismo de seus habitantes, é a causa que o vilão Charada (Paul Dano) utiliza para se vingar daqueles que deveriam cuidar do local, mas se corromperam pelo crime.
Como todo bom noir, temos a presença de uma Femme Fatale: Selina Kyle. A atriz Zoë Kravitz entrega a melhor representação da personagem desde Michelle Pfeiffer em 1992. Sedutora, misteriosa e perigosa, a personagem tem suas próprias motivações e segredos dentro do longa, não servindo apenas como parceria eventual de Batman, apesar da inegável química entre os dois. A combinação de Pattinson e Kravitz é uma combustão em cena.
Tecnicamente, o longa não peca em nada. O uso de luzes fortes e das sombras contribui muito para a narrativa. As lutas são bem coreografadas e eficientes, sem muitos malabarismos, mas extremamente violentas. Há uma cena de perseguição de carro, algo tão batido, mas que é realizada com uma perfeição poucas vezes alcançada. As três horas de duração do longa não são desperdiçadas e cada momento traz algo novo. A trilha sonora composta por Michael Giacchino contribui para manter o espectador sempre engajado na poltrona. Ela é um misto de clássico, algo que lembra a ópera, com algo mais misterioso e sombrio e que combina perfeitamente com o personagem e a história.
O Batman é uma excelente abordagem de um personagem que já foi adaptado inúmeras vezes. Matt Reeves prova que tem algo a dizer e uma história nova para contar. E que história! Trata-se de um longa ambicioso, que encerra bem a história que inicia, mas deixa janelas abertas para possíveis continuações.