As Barbies e os Kens (e o Allan) têm uma vida aparentemente perfeita em Barbieland. Um pensamento um tanto humano, porém, perturba e corrompe a percepção da Barbie protagonista (Margot Robbie) que a leva até o Mundo Real, acompanhada de seu acessório Ken (Ryan Gosling).

Engana-se quem pensa que Barbie não passa de um fan service nostálgico e bobinho. O quinto longa de Greta Gerwig explora a mente humana e os papéis de gênero de um jeito simples e extraordinariamente original.

A cenografia explora o fantástico e a artificialidade de forma autêntica, desde as paisagens 2D, as cores, as formas e as construções. Em momentos, o visual colorido e teatral lembra musicais coreografados e clássicos. Entre os filmes que inspiraram a diretora, é impossível não notar as semelhanças com Les Demoiselles de Rochefort, do francês Jacques Demy, que merece entrar para a watchlist de quem gostar de Barbie.

Margot Robbie é a Barbie que vem em mente quando pensamos na Barbie. Como o roteiro mesmo a chama, a Barbie Estereotipada. Sua interpretação é aliada do roteiro quando desafia os limites da perfeição física e representa uma mulher consciente e permeada por uma crise existencial permanente.

Ken é somente Ken e Ryan Gosling é perfeito como Ken. Seu passado como bailarino foi um empurrão e tanto para a sua performance e essas habilidades foram muito bem aproveitadas pelas escolhas de Gerwig.

A personalidade de cada uma das Barbies é acentuada por interpretações singulares e muito bem dirigidas. O elenco feminino de apoio é formado por nomes jovens na indústria, o que dá um ar fresco a personagens que poderiam facilmente ter caído em clichês. No mundo real, America Ferrera surpreende.

O filme satiriza a própria corporação por trás do sucesso das bonecas (a Mattel) e apresenta personagens nostálgicos que são brinquedos descontinuados e obscuros sem necessariamente objetificá-los. A narradora guia a atenção e estabelece um diálogo conosco e com o próprio filme, como uma espécie de metalinguagem extremamente informal e despretensiosa.

É um filme “redondo”, que tem escolhas intencionais e um final bem amarrado, mas pode ser interpretado como um veículo de críticas sociais explícitas e, por isso, ser considerado presunçoso.

Realmente, acredito que Barbie tem dois sentidos: o produzido por homens e o produzido por mulheres. Não é difícil encontrar críticos que diminuam o significado e o produto final do filme por ser meramente um “filme da Barbie”, como um desserviço de homens amargurados com a existência de um filme que não foi feito por ou para eles.

Barbie inicia com a apresentação de um problema que encaminha o seu enredo, mas termina com uma catarse na celebração da imperfeição e da individualidade da mulher e do que se encaixa no nicho da identidade feminina. É leve, inventivo, original e divertido ao mesmo tempo que é provocante, paradoxal e emocionante.

Assista ao trailer:

Barbie

5

5.0/5
Escrito por

Maria Eduarda Romagna

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