Crítica: Parasita

Um patriarca desempregado, filhos lutando pelo sinal do wi-fi do vizinho e uma matriarca ciente de que a situação precisa mudar. Parasita aborda a divisão de classes e conta a história de como uma família golpista consegue triunfar.

Escrito e dirigido por Bong Joon-ho, com colaboração de Han Jin-won – diretor já conhecido em Hollywood por sucessos como “Okja, 2017”-, o filme investe em uma narrativa que nos transporta para o outro lado do mundo e mostra como é preciso expandir e aceitar novos conceitos.

O jovem  Kim Ki-woo (Choi Woo-shik), com a ajuda de um amigo, consegue uma oportunidade para dar aulas particulares de inglês a uma menina da classe alta. No entanto, ele acaba trazendo seu pai Kim Ki-taek (Song Kang-ho), sua mãe Kim Chung-sook (Jang Hye-jin) e sua irmã Kim Ki-jung (Park So-dam) para exercer outras funções na casa da família Park. O desenvolvimento da história parece óbvio, mas a narrativa consegue prender o espectador com excelência e dinamismo. Mesmo os próximos passos dos personagens sendo previsíveis, Joon-ho deixa as cenas mais simples, principalmente aquelas em que as ações pesam mais que os diálogos. O roteiro faz com que a nossa percepção seja alterada a cada avançada da família, até um ponto em que nossas mentem criam uma imagem de que a situação financeira da família vai melhorar com o tempo. Mas, a pirâmide entre o rico e pobre nunca muda de lugar.

A relação entre eles é extremamente ácida,  mas muito baseada na cumplicidade. Além disso, todos  desempenham seus papéis com perfeição, criando um vínculo forte com o telespectador.

Como não odiar uma família rica? Joon-ho encontrou uma solução. Por mais ríspidos e superficiais que sejam, os “Parks” cativam pelo simples fato de que, para dar continuidade a sucessão de golpes, é preciso que eles demonstrem que também são humanos. No entanto, nada consegue esconder o cheiro dos invasores que tentam se adaptar ao ambiente. O design de produção é realista e minimalista: quando estamos no subúrbio, conseguimos sentir o cheiro de esgoto e a sujeira impregnada nas vielas; já na cidade, a estética é a de quem nunca deixou arranhão na mesa de jantar. 

O entrosamento do elenco é perfeito e rende momentos cômicos e reflexivos. O ritmo é acelerado, mas a trama respira entre cada novo desenvolvimento. Mesmo sendo possível antecipar as ações, o longa gira na dose certa entre dominação e caos. Segundo o dicionário: “o parasita é um organismo que precisa de outro hospedeiro para sobreviver”. Para mim, o longa é muito mais do que enfatizar as conquistas de uma família ou sobre o quanto a sociedade continua lutando por igualdade, mas como nos fazer enxergar além da bolha.