Crítica: História de um Casamento

Reprodução OlharDigital

Desde A Lula e a Baleia (2005), dava pra perceber o potencial que Noah Baumbach tinha para contar histórias reais – e quando eu digo real, quero dizer que são histórias que a gente vive, já viveu ou vai viver. Esse potencial foi confirmado em Margot e o Casamento (2007) e também em Os Meyerowitz (2017). Tramas que alcançam todo mundo tanto pela maneira como são conduzidas quanto pelo tema que abordam. Em História de um Casamento,  a facilidade com que o espectador se relaciona com o que acontece com Charlie e Nicole Barber (Adam Driver e Scarlet Johansson) durante o divórcio é o que torna esse filme dolorosamente bonito. Dói de tão real.

Um casal no início do processo de separação, com conversas calmas e ponderadas, sempre pensando no bem estar mútuo deles mesmos e de seu filho Henry (Azhy Robertson) gradualmente dá lugar aos interesses pessoais de cada um. No momento em que uma das partes coloca um advogado no meio, as coisas começam a desandar. As mágoas não ditas durante a relação e todos os motivos que os levaram até ali vão aos poucos se revelando. O mais fascinante em História de um Casamento é que é simplesmente impossível escolher quem está mais certo ou errado. São apenas duas pessoas com suas idiossincrasias, defeitos, qualidades. Um belo roteiro que foi seguido a risca pelas interpretações excepcionais de Adam Driver e Scarlet Johansson. Não somente na forma real em que os diálogos fluem, com interrupções e falas simultâneas, mas nos pequenos detalhes. São cenas como a em que Nicole conversa com o marido contendo o choro apenas para desabar em lágrimas, assim que sai de sua vista; ou a que, durante a discussão em que Charlie abre e fecha portas de armários na cozinha como quem não conseguisse lidar com o tema da conversa, que revelam a capacidade de entrega emocional e carga dramática que ambos são capaz de colocar em seus papéis. Indicações merecidas a ambos na categoria de Melhor Ator e Melhor Atriz.

Netflix

O que devemos levar de um filme como História de um Casamento é que nem todo término deve ser encarado como um fracasso. Ainda é possível celebrar a relação pelo que ela foi, mesmo com ela tendo acabado. Pode ser um pouco frustrante para os mais românticos que esperam que seja encontrada uma solução e que o casal permaneça junto, mas assim como na vida real, um final “feliz” pode ser mais complicado de se alcançar.