Com direção de Denis Villeneuve, trilha sonora de Hans Zimmer e nomes como Timothée Chalamet e Zendaya no elenco principal, Duna é um dos filmes mais esperados do ano — e as grandes expectativas são cumpridas com excelência. Após ter seu lançamento adiado pela pandemia, o primeiro filme da saga de ficção científica finalmente chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 21 de outubro. 

Adaptado da famosa obra homônima de 1965 do autor Frank Herbert, a história introduz um universo distópico, milhares de anos no futuro, onde a civilização humana não se encontra mais atrelada apenas à vida na Terra, povoando diversos planetas pela galáxia que são comandados por um império de casas aristocráticas. Ao contrário da maioria das tramas do gênero que apostam na grande influência da tecnologia no futuro, Duna retrata uma existência quase nada high-tech, uma era pós-revolução das máquinas onde todos os computadores pensantes e inteligências artificiais foram destruídos por crenças religiosas de que essas tecnologias acabariam com a humanidade. Como alternativa, a saga explora a evolução e o treinamento dos poderes da mente, a exemplo dos Mentats, homens treinados desde a infância a realizarem grandes cálculos de cabeça, como computadores.

Warner Bros/Divulgação

O longa explora o primeiro livro da saga, onde Paul Atraides (Timothée Chalamet), um jovem predestinado a um grande destino, precisa descobrir seu caminho ao mesmo tempo que enfrenta o começo sangrento de uma guerra entre a casa de sua família e outra casa rival. Em um ambiente seco e hostil como o planeta desértico Arrakis, onde a história se passa, Paul deve aprender a dominar seu medo e desenvolver o potencial de seus recém-descobertos poderes mentais para se provar capaz de cumprir seu papel como o messias que salvará o futuro da humanidade.

500 páginas em um: do livro ao cinema  

Adaptar uma saga de seis obras para a grande tela não é uma tarefa fácil, ainda mais considerando que apenas o primeiro livro tem mais de 500 páginas, mas os fãs do “Dunaverso” não irão se decepcionar com o trabalho de Villeneuve. Declarado fã de Herbert, o diretor canadense dedicou-se a construir uma versão fidedigna ao clássico, sendo mais conservador com o roteiro e ousando no aspecto midiático. As imagens de Duna (ou Duna: parte 1, como o título é exibido na abertura) são, literalmente, de outro mundo. As incríveis paisagens, seja no árido deserto ou na vasta imensidão da galáxia, enchem os olhos, mas tornam-se ainda mais marcantes com o acompanhamento da trilha sonora impecável do grande Hans Zimmer. Todos os aspectos emocionantes da história original — o universo distópico, as tecnologias, a exploração dos poderes psíquicos, os seres fantásticos —  são amplificados pela bela construção de narrativa de Villeneuve, que não tenta nos apressar com um mergulho superficial no complexo universo, nem nos atira em um épico de guerra futurista, mas permite, ao longo das 2h35 de filme, que o espectador avance aos poucos, conhecendo a intrincada conexão emocional entre os personagens e as relações sociais do ambiente, até se perceber completamente imerso nos ricos detalhes da história. 

O medo e o controle sobre ele são aspectos importantes no desenvolvimento de Paul ao longo da trama, e o filme soube explorar visualmente a complexidade desses sentimentos por meio de cenas intensas — como o tenso teste da mão na caixa — mas também suaves e repletas de beleza, como as cenas das visões e sonhos de Paul, onde ele vê Chani (Zendaya) alguém que ele hesita em confiar mas se vê atraído. 

“Medo é o assassino da mente”, diz a mãe de Paul em seu treinamento para ele. “Onde o medo não estiver mais, nada haverá. Somente eu permanecerei”. 

Apesar de longo, o filme não se mostra tedioso em nenhum momento devido aos impressionantes aspectos visuais e à construção da narrativa, que intercala realidade e sonho — é válido notar que, apesar de também ser um dos grandes nomes do elenco, na primeira parte da adaptação as aparições de Zendaya se concentram em sua maioria em curtos momentos nos sonhos de Paul. A respeito do elenco, é evidente que o diretor buscou um apelo ao público jovem ao escolher dois nomes tão populares na mídia quanto Chalamet e Zendaya, e enquanto a atuação de Chalamet se mostre pouco inovadora em comparação aos seus outros filmes, o ator ainda se mostra uma boa escolha para o papel do jovem duque. Também se destacam as fortes atuações de Rebecca Ferguson e Oscar Isaac, pais de Paul na trama. 

Complexo, inusitado e emocionante: três palavras que definem bem a experiência cinematográfica de Duna. Apesar de não ser um filme para todos os públicos, a adaptação é capaz de interessar até quem não costuma gostar de ficção científica, tanto pelos incríveis aspectos visuais e trilha sonora quanto pela envolvente trama, pontuada por excelentes atuações. Para quem não leu o livro, o filme vai lembrar uma mistura entre Game of Thrones e Star Wars, o que é irônico considerando que o clássico de Frank Herbert antecede ambas obras, tendo inclusive servido de inspiração para elas. 

Em resumo, Villeneuve entrega uma ótima introdução à saga, fiel aos livros, nos mantendo envolvidos na narrativa até o último segundo, e ao final nos deixa com curiosidade para saber mais sobre o universo e o que vem no futuro. A boa notícia é que, como foi evidenciado na abertura, essa é apenas a primeira parte da adaptação, e agora nos resta aguardar pela segunda parte.

Assista ao trailer:

Duna

4.5

4.5/5
Escrito por

Deborah Mabilde

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