Crítica: No Portal da Eternidade

Novo trabalho do cineasta Julian Schnabel, de O Escafandro e a Borboleta, com o roteiro assinado em conjunto com Louise Kugelberg e Jean-Claude Carrière, No Portal da Eternidade aborda a biografia de Vincent Van Gogh para os cinemas. Diferente do excepcional Com Amor, Van Gogh, o diretor com estilo tradicional tenta recriar o drama vivido pelo pintor durante a sua vida até a morte. A trama é familiar para todos que conhecem a história do artista. Van Gogh ainda procura inspiração e almeja o reconhecimento. Sempre solitário, o artista deixou sua frustrações amorosas, dificuldades financeiras tomaram conta de sua mente e aos 37 anos, devido a um tiro no estômago, veio a falecer. Depois de sua morte, suas pinturas se tornaram grandes sucessos.

Schabel traz uma narrativa mais parada e minimalista. Cercado por belas paisagens, Van Gogh tenta achar um refúgio diante de suas frustrações para pintar. Interpretado pelo veterano Willem Dafoe, o personagem ganha o carisma necessário para convencer no papel, capaz de internalizar sentimentos e mostrar um lado mais natural do artista. No entanto, o trabalho é tão expressivo que é possível relevar a diferença de idade, visto que Dafoe está com 63 anos. No elenco, temos ainda Oscar Isaac vivendo o pintor Paul Gauguin e Rupert Friend, na pele de Theo Van Gogh, irmão de Vincent.

Mesmo sendo uma biografia tradicional, Schnabel comanda a trama diante de sua visão. Numa narrativa por vezes crua, fazendo proveito de belas paisagens e deixando a imagem falar por si mesma, o resultado é uma mescla entre o prazer e a solidão do artista. A trilha sonora composta por Tatiana Lisovkaia é sutil quando precisa e intensa, capaz de causar incômodo. No entanto, o exagero da câmera na mão atrapalha a experiência visual. Um recurso bom para transmitir ao público a sensação de movimento, mas usado exageradamente pelo diretor. Van Gogh, aqui, sente o peso de suas decisões moldarem seu rumo e as falhas cometidas em vida aparecerem. Dado como esquizofrênico por Schnabel, ele era constantemente afetado pelas vozes em suas cabeças ou apagões que o faziam esquecer de suas ações, como cortar a própria orelha devido a uma paixão platônica. Posto em dúvida sobre sua sanidade várias vezes, o pintor é visto como uma pessoa frágil e carente.

Um figura complexa para o mundo, mas adorável para os diretores. No Portal da Eternidade segue a vida de Vincent Van Gogh mostrando além de suas belas pinturas, olhando diretamente para um coração doente, que só desejava ser reconhecido em vida. Um bom filme, ainda melhor para quem admira o trabalho memorável do artista.