Reprodução: TecMundo
Vencedor do Leão de Ouro, principal prêmio do Festival de Veneza, Coringa entrega tudo o que prometeu com excelência. A história de origem de um dos vilões mais excêntricos do cinema trouxe a tona o lado mais obscuro do mundo dos quadrinhos. 
Apesar das polêmicas em torno das cenas violentas e da possível exaltação do anti-herói, o longa não é (como afirmam alguns) o filme errado, na hora errada. Muito pelo contrário. No contexto atual – não só brasileiro, mas mundial – um filme que explicite a violência ocasionada por uma sociedade desestruturada é justamente o que precisamos. No fim das contas, Coringa é, por mais surpreendente que possa parecer, uma narrativa extremamente triste e, infelizmente, não tão distópica quanto gostaríamos que fosse. Apresentando uma Gothan em decadência, o longa desconstrói a criminalidade e violência gratuita da sociedade, fazendo-nos perguntar como, afinal, o ser humano chega em tais condições. 
Reprodução: AdoroCinema

O desenvolvimento do personagem principal, Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), foi bem trabalhado pelo roteiro e, excepcionalmente, pelo ator. Phoenix provou mais uma vez, mesmo que sem necessidade, o seu talento e empenho ao criar o personagem. Com problemas neurológicos e uma risada perturbadora, Arthur possuí diversas camadas e suas ações são sempre coerentes dentro da incoerência de uma pessoa desequilibrada.

A direção de Todd Phillips (Se Beber Não Case) não é um ponto alto do filme. Apesar de ser adequada e coesa, o diretor pouco inova e se atém ao básico, deixando os elogios à parte técnica para outros aspectos. A trilha sonora, por exemplo, cumpre seus objetivos criando a tensão e o friozinho no estômago de quem assiste, com uma sensação de piedade mesclada ao horror. A fotografia também foi bem sucedida: planos fechados na hora certa e sem exageros deram mais dimensão às emoções do personagem e criaram a tão desejada intimidade com o espectador.

No período em que a Marvel investe em vilões mais complexos, como Thanos (Os Vingadores) e Erik Killmonger (Pantera Negra), fazendo-nos questionar nossos próprios princípios e, por vezes, ver razão nas suas atitudes radicais e violentas; já estava mais que na hora da DC fazer o mesmo, sem medo de críticas negativas ou polêmicas. Coringa entregou o que propôs e fez um estudo do famoso personagem em plena tela grande, elevando-o a um novo e mais humano, apesar de obscuro, patamar.

Escrito por

Luara Rodrigues

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *