EPISÓDIO 5

O que mais gosto de ter me acostumado com o agito da cidade é a facilidade com que encontro momentos de calmaria em meio ao caos. Explico: nem sempre fui familiarizada com o barulho do trânsito da Osvaldo Aranha às seis da tarde, com os pedestres apressados da Borges de Medeiros ou com os batedores de carteira na Rodoviária. Minhas idas à Capital na infância não passavam de passeios sazonais nos finais de semana com os meus pais – sempre de carro, sempre para algum shopping grande onde o verdadeiro espírito da cidade não é palpável aos visitantes.

Foto: Luísa Tessuto.
Quando comecei a experimentar o gosto da independência, e passei a ir e vir quando bem entendia, a ideia de ser “apenas uma garota andando pela cidade grande” me encantou. Foi descobrindo qual ônibus vai para cada canto de Porto Alegre que senti que eu mesma poderia ir para qualquer lugar que quisesse – e nada explica melhor a  liberdade do que saber que há uma infinidade de opções esperando por nada mais do que a sua vontade de ir.
Mas a cidade também pode ser claustrofóbica. O barulho, a poluição, o trânsito e a violência são alguns dos fatores que afastam quem busca tranquilidade. Dizem que é no interior onde se encontra a verdadeira calmaria – no silêncio, na natureza, no ar puro. Na falta de oportunidade, tive que encontrar pequenas pausas na rotineira trajetória de ida e vinda da Região Metropolitana. 
Quando ando na Redenção pela manhã, fico animada para o começo do dia. Quando o ônibus de volta do trabalho passa na frente do Gasômetro na hora do pôr do sol, penso que não há melhor lugar para apreciar o final da tarde. Quando vejo um casal apaixonado nos bancos da Praça da Alfândega, lembro o quão intenso o amor pode ser. Quando fecho os olhos e durmo no trem depois de um dia cansativo, sinto que não há nada melhor do que voltar para casa. A poesia da cidade não está no conjunto do caos, e sim na singularidade momentânea encontrada nos vislumbres da calmaria de cada um.

____

Esta crônica foi escrita por Luísa Tessuto.  


____



Sobre a autora:


Luísa Tessuto é estudante de Jornalismo na UFRGS e trabalha na editoria de entretenimento em GZH. Gosta (muito) de ler, escrever, falar e comentar Big Brother no Twitter.

Crônicas de Sexta

Este texto faz parte do projeto ‘Crônicas de Sexta’. Leia mais:

A arte do projeto é da Vitória Cristofolli. Acompanhe o trabalho dela aqui: @nuncanemvit_

Escrito por

Luísa Tessuto

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *