Para uma espectadora de primeira viagem, sem expectativas ou julgamentos, o Ira oferece uma aura de legado em formato de apresentação. Nos primeiros minutos de palco, já anunciam: ‘’Vocês querem história do rock? Isso aqui são quarenta anos de história do rock’’. Os trejeitos e o conforto sob os holofotes tornam visível a longa trajetória e a familiaridade dos músicos entre si. Assistir à performance nos faz questionar o quão mais enérgicos já foram, já que o vigor atual ainda parece representar os jovens dos anos 1980.

Foto: Eduarda Piltcher

Sem dúvida alguma, seu público foi levado de volta aos tempos dos cabelos armados e jaquetas de couro, constantemente atiçado pela banda a fazer ainda mais barulho, gritar ainda mais alto para fazer tremer o Araújo Vianna. Uma noite para repetir o sentimento de possibilidade e poder da rebeldia punk, para mostrar que as clássicas letras também podem descrever a insatisfação com o presente: os protestos e as exclamações possuem nova roupagem, mas são basicamente os mesmos de anos atrás.

Nascida em meio à eclosão do movimento punk brasileiro, em meados de 1980, a banda Ira surge no cenário universitário paulista. Metade de seus integrantes serviam ao exército, o que contribuiu para o nome da banda, inspirado no Exército Republicano Irlandês, causando certos olhares desconfiados para as camisetas dos fãs. Mas os quatro jovens de cabeças raspadas serviam, de fato, ao eufórico cenário musical – e comportamental – que ali se erguia.

Logo em seus primeiros discos Mudança de comportamento e Vivendo e não aprendendo, a banda já traça seu caminho de sucesso para a história do rock nacional. Os títulos que carregam a maioria de seus hits reúnem letras que conversam com todas as idades, letras que falam da realidade e suas nuances, sem demarcar um tipo de ouvinte. Ao contrário, o instrumental – guitarra e bateria sempre muito presentes –, acompanhando a voz rouca e exagerada do vocalista Nasi, forma a cara do punk rock, principalmente se for possível ver eles exuberantes em um palco.

Por ser um projeto que representava a época de rebeldia juvenil em plena ditadura militar, fica fácil imaginar alguns episódios que a banda passou: fama, polícia, separações, prêmios e internações. Mas isso não resume todo o valor que o grupo construiu. Após quatro décadas de carreira, eles continuam ativos, mesmo já considerados como ‘’alternativos demais pro para o mainstream e muito mainstream para os alternativos’’. Ira é o aprendizado de viver – com atitude -, é experimentar de cabeça a “vida passageira’’.

Escrito por

Eduarda Piltcher

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